19/05/2016
Clara clareou e iluminou com
sons coloridos, a noite na Sala
Critica do espetáculo 'Sinestesia'
com a pianista Clara Sverner
e seu filho, o artista visual
Muti Randolph
Ontem vivemos uma noite
intensa de musicalidade
e luz na Sala Cecília
Meirelles.
Ao piano a consagrada
pianista Clara Sverner,
desafiava poeticamente,
um repertório eclético,
intenso e vibrante.
A partir da captação
dos movimentos das suas
mãos sobre o teclado,
o seu filho Muti Randolph
– notável no design/arquitetura
de interiores – operava
o software, projetando
objetos tridimencionais
e flashes de coloridos
intensos, ritmando a
arte de Clara. “A pianista
toca imagens e o público
enxerga a música”- explicou
o artista.
O programa começou onde
tradicionalmente, grandes
pianistas encerram os
seus, usando como peça
de bis, o Polichinelo,
de Villa-Lobos – da
Prole do Bebê nº 1,
série de 8 peças, dedicadas
as bonecas, sendo a
de nº 7, o único boneco
– agil e frenético,
multi colorido que inundou
a sala com cores vivas.
Clara mostrou ao que
veio. Segurança e presença
forte, dominou e conquistou
imediatamente o público
numeroso e bastante
atento.
O programa seguiu com
peças impressionistas
de Claude Debussy: Clair
de Lune, da Suite Bergamasque,
constituída de quatro
peças, começada em 1890
e finalmente publicada
em 1905 – Feux d’Artifice
(moderamente animado)
e Cathedrale Engloutie
(profundamente calmo),
ambas pertecentes aos
prelúdios publicados
em dois livros, numa
homagem aos famosos
prelúdios de Chopin
– Clara é famosa por
suas interpretações
dos impressionistas
– elegante, sobria,
vivaz e melancólica,
foi fantástica.
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Clara Sverner e Muti
Randolph (foto: divulgação)
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Seguiu-se o brasileiro nascido
na Itália, Glauco Velasquez,
que é um compositor da linha
impressionista mas incrivelmente
pessoal, diferente em suas abordagens
– Clara redescobriu as obras
deste maravilhoso e ainda desconhecido
criador. Ouvimos: Devaneios
sobre as ondas e Brutto Sogno
(pesadelo), peças perfeitas
para o cromatismo visual concebido,
ilustrando a maravilhosa interpretação
da Clara,
Após as peças impressionistas,
tivemos, das Danças Argentinas
de Alberto Ginastera – Danza
del Viejo Boyero (do Velho Pastor)
e Danza de La Moza Danoza (da
Moça Formosa) – alegres reminicências
de uma vida pastoril dos pampas
argentinos. Uma versão inteligente
da pianista, respiração perfeita
nos tempos musicais, dançando
junto as luzes faíscantes.
Segui-se o Tango, de Igor Stravinsky.
Peça em ré menor, composta em
1940, que espantou alguns dos
presentes, com a descoberta
de onde surgiu o novo tango
de Piazzolla. Clara deu uma
dimensão exata e categórica
a esta peça extraordinária.
Já com óculos trimendicionais,
tivemos em sequencia: Anton
Webern, Variações para Piano,
op. 2. Obra dodecafônica, de
1936, em três breves movimentos
– Arnold Schoenberg, compositor
expressionista vienense: Intemezzo
da Suite Op. 25 – pertencente
ao conjunto de 6 peças, pelo
austríaco em 12 tons encadeados
relativamente uns aos outros
– Karlheniz Stockhausen, nº
4 Klavierstuvk IX, uma das 19
peças pra piano solo, do compositor
da música contemporânea alemã
– Interpretação precisas de
Clara, sublinhadas por figuras
geométricas projetadas em três
dimensões.
E por fim, o criador da Sinestesia,
o russo nascido em 1872, Alexander
Scriabin, com três peças bem
ilustrativas: Nuances Op. 56
nº 3, Poema Op. 32 nº 1 e terminando
triufalmente com o Estudo Patético,
Op. 8 nº 12.
Clara Sverner apresentou-se
na glória dos seus 79 anos,
com todo o seu potencial de
artista amplamente festejada:
Corajosa, pulsante, lírica,
vanguardista - uma figura fragil,
telúrica e intensamente dinâmica,
onde movimentos e forças se
adensam, explodindo numa claridade
única de sons. Bravos a Clara
e ao Muti, por este espetáculo
que revigora as artes do nosso
país.
Presencas ilustres no espetáculo:
Nathalia Timberg e Randolph
o esposo da consagrada pianista.
Eu e Clara após o espetáculo
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