03/04/2016
Crítica do Concerto da OSB
Com regência do maestro emérito
Roberto Minczuk, apresentação
aconteceu dia 2 de abril no Theatro
Municipal do Rio
Ontem vivemos uma
noite de glória da nossa
Orquestra Sinfônica
Brasileira, conduzida com
uma impecável segurança e
vigor, pelo seu regente,
mais do que emérito, Roberto Minczuk.
Depois do Hino Nacional,
cantado com vibração por
todos, tivemos uma singela
homenagem ao querido e
inesquecível maestro Kurt
Mazur, tão ligado a nossa
orquestra e ao nosso
público, ao longo dos anos.
Foram apresentados os
momentos finais da Sinfonia
nº 5 – Reforma, em Ré Maior,
op. 107, de Felix
Mendelsshon.
Obra composta em 1830, em
honra ao tricentenário da
apresentação das Confissões
de Augsburgo, a primeira
exposição oficial dos
principios do luteranismo ou
do protestantismo, ao
Imperador Carlos V, em junho
de 1530. A obra só pode ser
estreada em novembro de
1832, em Berlim. Na verdade,
ela foi a segunda sinfonia
criada por Mendelsshon. Só
foi publicada em 1868, 21
anos após da morte do
compositor. Ela divide-se em
4 movimentos.
I. Andante – Allegro con
Fuoco – Andante – meno
Allegro
II. Allegro vivace
III. Andante
IV. Chorale: Ein’ feste Burg
ist unser Gott. Andante con
moto – Allegro vivace –
Allegro maestoso |
Roberto Minczuk e Lauro
Gomes após o espetáculo |
Ouvimos o Andante e o Chorale: Ein’
feste Brug ist unser Gott – Um
castelo forte é o nosso Deus, um
hino composto por Lutero.
Foram momentos pungentes, de
serenidade tocante, seguidos de um
canto religioso em louvor ao Senhor.
Um lindo desempenho da orquestra,
numa comovente apresentação sem
arroubos, em exaltação e glórias ao
Mazur.
Em seguida, tivemos a estreia dos
Jogos Sinfônicos, de João Guilherme
Ripper, em homenagem aos Jogos
Olímpicos que serão realizado este
ano no Rio de Janeiro. A obra
expressa em música, o espírito
olímpico como tema. Dividida em três
movimentos, cada um representando
motes do universo esportivo:
Distâncias – persistência e
resistência dos maratonistas. Começa
com uma sensacional fanfarra
anunciando os jogos e vai se
desenvolvendo com contrastes de
grupos instrumentais, representando
os concorrentes em busca do pódio.
Velas – poética imagem dos esportes
aquáticos, com direito a uma linda
seresta enluarada, iluminando uma
regata dolente, candenciada por
movimentos de uma bucólica baía,
repleta de velas cintilantes.
Drible – ginga corporal dos
competidores, como um jogo de bola,
ritmado ao som de um samba
sincopado, percussivo e numa
apoteose triunfal.
Bela obra que teve uma orquestra
segura e limpa, desenhando com
maestria toda a imaginação do
compositor. Bravos. Precisamos ouvir
mais vezes esta composição, ora
vibrante, ora lírica e finalmente
arrebatedora.
E para terminar, na 2ª parte do
concerto, tivemos uma interpretação
que ficará na memória de todos que
estavam presentes no Municipal:
Scheherazade, Suíte Sinfônica op.
35, de Rimsky-Korsakov.
Composição de 1888, baseada no livro
de contos das “Mil e uma noites”.
Talvez seja a música mais conhecida
do compositor. Sabor autenticamente
russo, com uma rica e colorida
orquestração, plena acentos
orientais.
A suíte divide-se nas seguintes
partes:
I - O mar e o navio de Simbad:
(Largo e maestoso - Allegro non
troppo)
II - A história do Príncipe Kalender:
(Lento - Andantino - Allegro molto -
Con moto)
III - O jovem príncipe e a jovem
princesa: (Andantino quasi
allegretto - Pochissimo più mosso -
Come prima - Pochissimo più animato)
IV - Festa em Bagdá - Naufrágio do
barco nas rochas: (Allegro molto -
Vivo - Allegro non troppo maestoso)
O Sultão Shahryar decide que matará
todas as suas esposas após a noite
de núpcias. Ele acredita que as
mulheres são falsas e infiéis.
Scheherazade, a nova vítima, se
apresenta com um ardil. Para
envolver o sultão, todas as noites
conta histórias que, quando chegam
ao ápice, o galo canta anuciando um
novo dia. A história se interrompe
para que a narrativa prossiga na
noite seguinte, aguçando cada vez
mais a curiosidade de Shahryar, até
que se completam mil e uma noites e
ele acaba perdoando Scheherazade e
vão viver juntos, felizes para
sempre.
A atuação da orquestra foi
fantástica. A direção de Minczuk foi
abençoada. Atenção, ataques
decisivos e eloquentes, sublinharam
a narrativa sonora, de ambientações
exóticas e deliciosamente lindas. O
belíssimo tema de Sheherazade,
anunciado pelo violino, atravessando
toda obra, num sinuoso jogo em que
sentimos a presença constante do
mar, do navio e do Simbad singrando
majestoso. Depois várias histórias
se entrelaçam. A do Princípe
Kalender, matreiro e intrigante e
depois a história amorosa do jovem
príncipe e a jovem princesa,
culminando com a Festa em Bagdá e o
estrepitoso naufrágio, com uma
explosão orquestral magnífica em
todos os sentidos.
De parabéns a Orquestra Sinfônica
Brasileira que abriu a temporada com
uma chave de ouro. O público vibrou
numa ovação frenética, como poucas
vezes temos visto. Temos músicos
sensacionais e uma orquestra que
pode se rivalizar com as grandes
orquestras mundiais. Um espetáculo
deslumbrante e memorável. Bravos,
muitos bravos e saimos orgulhosos do
Theatro Municipal, para brindarmos
esta noite maravilhosa, com um chope
revigorante, dourado e bem
geladinho.
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