19/03/2016
Crítica do concerto da Orquestra
Petrobrás Sinfônica
O concerto abriu a temporada de
2016 com a regência de Isaac
Karabtchevsky
Ontem a noite, tivemos no Theatro
Municipal, a abertura da temporada
da Orquestra Petrobrás Sinfônica,
sob a direção de Isaac Karabtchevsky.
O início foi com uma belíssima
interpretação de “O Uirapuru”, poema
sinfônico e bailado, criação de
1917, de Villa-Lobos. A música
descreve a lenda indígena, do canto
noturno de um pássaro mavioso, que
cala todos os outros pássaros quando
canta. Estamos na floresta, calma,
silenciosa. Surge o Índio Feio
tocando uma flauta. Atraídas pelo
som, chegam jovens índias que
indignadas, enxotam o Feio com
empurrões e pontapés. As indígenas
procuram pelo Uirapuru e se ouvem os
sons de grilos, corujas, bacuráus,
morcegos e toda a fauna noturna.
Trilos suaves anunciam o Uirapuru.
Uma índia fere o pássaro que se
transforma num belo e forte índio,
disputado por todas. Ouve-se o canto
agourento da flauta de osso do Índio
Feio, que feroz e vingativo, atira
uma flecha matando o índio rival.
Subitamente o índio morto se
transforma num pássaro invisível e
as moças inebriadas, agora só
conseguem ouvir o seu canto mágico,
nas entranhas da floresta.
A orquestra teve um desempenho
fantástico. Bem conduzida, mostrou
com clareza e exatidão, todo
encantamento descritivo da obra.
Ouvimos a canto vivo da floresta, a
movimentação indígena, o canto do
pássaro, a disputa das moças pelo
jovem, e enfim o seu desenlace, com
o canto do Uirapuru esvaindo-se na
imensidão. A plateia vibrou
agradecida.
Em seguida, fomos brindados com “Os
Quatro Temperamentos”, para piano e
cordas, obra de 1940, de Hindemith,
que consta de um tema e variações,
retratando os 4 temperamentos
humanos, teoria de Hipócrates,
médico grego que viveu entre 460 e
377 AC. Segundo ele, os
temperamentos estavam ligados aos 4
elementos: O melancólico à terra – O
sanguíneo ao ar – O fleumático à
água - O colérico ao fogo.
Esta idéia nasceu de uma encomenda
do coreógrafo Balanchine, que estava
preparando um ballet sobre a Música
de Câmara nº 2, composição de 1927,
de Paul Hindemith, peça agressiva
para piano e 12 instrumentos. O
compositor achou melhor idealizar um
novo balé e em 5 semanas escreveu a
partitura, que estreou tendo como
pianista, Lukas Foss.
Nossa orquestra teve como solista, o
magnífico pianista Flávio Augusto,
nascido em Poços de Caldas, Minas
Gerais, fez os seus estudos com
Homero de Magalhães, Gilberto
Tinetti e Myrian Dauelsberg. Flávio
é detentor de 28 primeiros prêmios
em Concursos Nacionais e
Internacionais, de piano, sendo
sendo o 1º brasileiro a conquistar
em 1988, o Concurso Internacional de
Piano Villa-Lobos. A atuação de
Flávio Augusto, foi primorosa. Com o
pulso firme de Karabtchevsky, atento
e seguro, as cordas encontraram a
sintonia ideal nos diálogos com
piano. As variações dos humores, ora
calmos, ora excitados, vibrantes e
intensos, transcorreram num clima
perfeita harmonia. Flávio mostrou
mais uma vez, porque é um dos
maiores valores da nossa terra e que
precisa estar mais presente nas
temporadas das nossas orquestras.
Bravos ou Maravilha! Como gritou
extasiado o nosso querido Mariano.
Na segunda parte tivemos dois balés,
de compositores russos, inspirados
numa mesma lenda, “Kastchei, o
imortal”.
Primeiro ouvimos, “O Reino
Encantado”, op. 39 do Nikolai
Tcherepnin. Trata-se de uma sucessão
de pequenos episódios, em que
diferentes instrumentos se destacam
como solistas, sobre delicadas
formações orquestrais, num
encadeamento harmônico lento, nos
remetendo a uma curiosa sensação de
paz. A história narra a lenda de
Ivan, herói que durante um passeio
noturno no bosque no reino encantado
de Katschei, encontra o pássaro de
fogo. Esta obra foi o resultado de
uma encomenda do coreógrafo
Diaghilev, para os Ballets Russos.
Mais uma vez a sensibilidade e
maestria de Karabtchevsky, se impôs.
A orquestra soou serena, num clima
onírico de grande prazer.
Para encerrar a noite, “O Pássaro de
Fogo”, de Igor Stravinsky, que marca
o início da colaboração artística
entre o compositor e Diaghilev. O
ballet, foi uma encomenda simultanea,
sobre a mesma lenda aos dois
compositores. Aqui o clima e
tratamento é totalmente o inverso da
obra de Tcherepnin. Composta em
1910, a lenda sobre o pássaro
mágico, que ao mesmo tempo, é uma
bênção e uma perdição para o seu
captor, estreou com grande sucesso.
Em 1919, devido a grande acolhida,
Stravinsky fez esta suíte para
orquestra que conquistou o mundo.
Foi encerramento apoteótico. A
orquestra com destaque em todos os
naípes, mostrou-se inteira,
deslumbrante nos mínimos detalhes.
Parabéns ao decano dos nossos
maestros, o sempre jovem Isaac
Karabtchevsky, que tem ainda muito
fôlego, energia e talento, na luta
pelas suas conquistas. Um começo de
temporada gratificante, que anima
aos amantes da grande arte da
música. Bravos a Orquestra Petrobrás
Sinfônica, ao Flávio Augusto e ao
nosso vibrante regente.
Eu e Flávio Augusto, após o concerto ontem.
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