29/09/2016
Crítica
da ópera Mozart & Salieri, de
Rimsky-Korsakov
Quem foi ao Theatro Municipal ontem
à noite, sentiu-se abençoado por
assistir dois grandes espetáculos.
A ópera Mozart & Salieri, Opus 48,
em um ato, foi composta por
Rimsky-Korsakov, inspirado na poesia
de Púchkin, no ano de 1897. A ópera
evoca a lenda fantasiosa, de que o
compositor Salieri, por inveja e
ciúme, assassinou Mozart.
Korsakov, explica que elaborou a
partitura como duas cenas
operísticas no estilo “recitativo-arioso”.
Não há árias e sim explanações. As
harmonias mozartianas permeiam toda
a obra, com os destaques
emocionalmente belos, das pequenas
cenas do seu imortal Requiem.
O libreto teve a adaptação de André
Cardoso e os textos cantados em
portugues. Nos papéis principais
tivemos: Inácio de Nonno (foto ao
lado), o veterano
barítono, vivendo um Salieri
ardiloso, num clima entre a
admiração e a inveja do talento do
seu oponente. Dicção perfeita,
correção vocal, dando conta do seu
papel lindamente, que foi criado por
um dos maiores baixos da história da
ópera, o russo Chaliápin. |
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Flávio Leite
(foto ao lado), tenor, foi um Mozart
elegante nos gestos e na emoção.
Fraseados lindos e límpidos,
valorizando enormente o seu
desempenho.
A participação do violinista cego,
por José Lana, foi discretamente
comovente.
De chorar as pequenas intervenções
do micro coro do theatro. Lindo
demais. Soava como um coro celestial
e grandioso.
Cenário de Fernando Mello da Costa,
um gigantesco piano realista, que ao
se rodar, transformava-se num piano
que desmanchava-se como uma lava
derretida – foi criado um clima
perfeito para as ações.
Os figuirinos, de Marcelo Marques,
foram todos bem situados dentro da
época dos fatos, no século XVIII -
belos, insuantes e eficientes.
Muito boa e inventiva a iluminação
de Aurélio De Simoni.
A preparação coro por Jésus
Figueiredo, como sempre eficiente e
precisa.
A orquestra no poço soava
maravilhosa, musical e muito bem
amparada pelas mãos magistrais do
regente Tobias Volkmann.
Muita segura a direção cênica de
Daniel Herz, sabendo locomover os
personagens com harmonia. Belos
desenhos corporais nos deslocamentos
do coro.
Um belo espetáculo, com um Korsakov
quase desconhecido, fazendo música
não para encantar e sim para
destacar o desenrolar da trama.
Na 2ª parte tivemos um surpreendente
balé: Sheherazade, criado por Fokine,
a partir do poema sinfônico de
Rimsky-Korsakov, datado de1888 e
inspirado nos Contos das Mil e Uma
Noites.
No elenco tivemos praticamente todo
o corpo de baile do Theatro
Municipal. Nos papéis principais, os
solistas se revesam. Ontem, arrisco
a dizer que os principais foram
Cícero Gomes, impecável e
virtusístico no Escravo Dourado – e
– Deborah Ribeiro numa Zoreide
sensual, sedutora e finalmente
fatalista.
A coreografia, foi reconstruída do
original de Fokine.
Todo o corpo de baile estava
cintilante, preciso e correto.
Cenografia e figurinos originais de
Léon Bakst sensacionais e de
colorido exuberante, uma festa para
os olhos.
A remontagem e supervisão artística,
de Toni Candeloro, foi primorosa.
A orquestra soou magnífica, dando
toda a ênfase e realce a cada cena.
Bravos a Tobias Volkmann pelo
belíssimo trabalho.
Gente, já é milagre, no meio desta
era de contenções, haver um
espetáculo de qualidade nos nossos
teatros, mas estes dois, unidos,
formam um par de constrastes, de
belezas únicas.
Saia de casa e vá correndo
prestigiar os nossos valorosos
lutadores. Garanto que vocês vão
sair encantados do Theatro
Municipal.
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