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  • 25/07/2015

     

    O MAXIXE: primeiro ritmo brasileiro a fazer sucesso no exterior

    Por Roberto Carelli

     

     

    Antes do samba, da bossa-nova, da lambada e de Michel Teló (sim, ele fez um sucesso momentâneo na Europa com "Ai, se te pego"), um ritmo genuinamente brasileiro que fez sucesso dentro e fora do país foi o Maxixe. Também chamado na época de "tango brasileiro", entrou na moda na capital do país (na época, o Rio de Janeiro) entre o fim do século XIX e o início do século XX.

    Podemos dizer que o maxixe é um descendente direto do lundu (ritmo afro-brasileiro ancestral do samba), amestiçado com o som da polca européia e da habanera espanhola. Nomes ilustres que escreveram maxixes famosos são Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth.

    O mais interessante é que o maxixe não se restringiu ao Rio de Janeiro. Na verdade foi o primeiro ritmo brasileiro "tipo exportação": foi tocado e dançado em Portugal, França e outros países europeus. Nos Estados Unidos, por volta de 1910 a 1915, chegou a virar uma espécie de dança exótica da moda, chamando a atenção pela sensualidade no modo que os casais o dançavam,  sem dúvida uma novidade em uma época em que mulher e homem trocando afetos em público era considerado uma imoralidade. Beijar na boca em público então, nem se fala, era caso de polícia mesmo.

    Exatamente por isso, o maxixe chamou a atenção lá fora. Os europeus e americanos nunca tinham visto uma dança tão provocante, onde homem e mulher dançam colados, e mexendo os quadris juntos. O maxixe virou moda nos Estados Unidos mais ou menos na mesma época em que o tango - outra dança escandalosamente sensual para a época - foi descoberto pelos americanos, na época ávidos por novidades exóticas de países distantes.

    De acordo  com a descrição de um jornalista carioca em 1905, no maxixe o casal dançava com os pés arrastando-se graciosamente, e os quadris ondulando, encostando suas testas e brevemente entrelaçando seus membros. E eles ficavam assim, com os corpos juntos durante todo o baile. "Rosto com rosto, corpo com corpo..."

    Essa sensualidade picaresca do maxixe chamou tanto a atenção nos Estados Unidos que houve inclusive dançarinos americanos ensinando o ritmo. A foto à direita mostra o casal de dançarinos americanos Irene e Vernon Castle, famosos nos Estados Unidos no inicio do século XX, ensinando passos do maxixe. Claro que adaptado para o público americano, que com aquela pudícia vitoriana tipica da cultura anglo-saxônica da época, não estava preparado para ver um homem e uma mulher dançando "quadril com quadril", como os "desinibidos" cariocas faziam. Assim, em vez de encostarem ou remexerem os quadris, os americanos ondulavam o corpo sincronizadamente. Em vez de encostarem a testa um no outro, permaneciam com as mãos entrelaçadas durante a dança.

    Os Castles lançaram um livro sobre dança, e nele descreveram o maxixe como “uma exótica expressão de felicidade e espontaneidade juvenil”. Abaixo, você pode assistir a um video onde os Castles aparecem dançando maxixe em um filme mudo de 1915. Lembrando que na época, os filmes mudos eram acompanhados por música ao vivo (geralmente um pianista), vale observar que a música que toca no video, que foi acrescentada depois para sonorizar o filme, é o maxixe "Dengoso" de Ernesto Nazareth, em uma versão orquestral gravada na época nos EUA. 

     

     

    Abaixo, voce pode ouvir uma gravação completa de  "Dengoso", gravado pela Victor Military Band em Nova Jersey, EUA, em 19 de Janeiro de 1914. 

     

     Uma prova de que o maxixe não foi esquecido nos EUA é o video abaixo, com uma apresentação do grupo norte-americano The Ragtime Skedaddlers tocando "Dengoso" no Festival of the Mandolins na cidade de San Francisco em 2012.

     

    É interessante ressaltar que nos EUA existem músicos americanos que apreciam não só a bossa-nova ou o samba, mas também o maxixe, e principalmente o chorinho, e regularmente se apresentam tocando estes ritmos. Posso citar o violonista Ron Galen, cujo trabalho conheço bem, como um excelente exemplo.  

    Quanto à Ernesto Nazareth, é importante citar que as dezenas de maxixes/tangos brasileiros que ele compôs entraram tanto no repertório da música popular como no da erudita. Isso se deve ao fato de que Nazareth possuia um estilo de composição muito refinado, dir-se-ia mesmo chopiniano, ultrapassando a fronteira da música popular. Por isso,  até hoje regularmente tocado por pianistas em salas de concerto no Brasil e no exterior. Só para se ter uma idéia de como Nazareth continua firme no repertório erudito, em 2013, conforme notícia publicada no jornal O Estado de São Paulo, ele foi tocado em concertos na Alemanha, EUA, Indonésia, Japão, Noruega e Portugal. 

    Para saber mais sobre Ernesto Nazareth, o portal Ernesto Nazareth 150 anos é uma fonte completa de informações biográficas, fotos e partituras do compositor. E para quem quiser pesquisar mais sobre a história do maxixe e da música brasileira do inicio do século XX, uma excelente fonte de informações é o site Ao Chiado Brasileiro, do músico e colecionador Roberto Lapicirella. No site, voce também pode ouvir algumas gravações raras da época, incluindo os primeiros discos gravados no Brasil pela Casa Edison.

    Quanto à Chiquinha Gonzaga, a mais completa fonte de material na internet é o portal chiquinhagonzaga.com.br, coordenado pelos pianistas Alexandre Dias e Wandrei Braga. O portal traz informações biográficas, fotos, partituras, e muito mais. 

    E para fecharmos este artigo com chave de ouro, vamos viajar no tempo e voltar para o Rio de Janeiro do tempo de nossos bisavós, no longínquo ano de 1904, para ouvir "Café Avenida", um gostoso maxixe com sabor de Rio Antigo, gravado na Casa Edison, a empresa pioneira que iniciou as gravações sonoras no país. "Café Avenida" foi composto por Anacleto de Medeiros, um dos mais importantes compositores populares do Brasil no inicio do século XX, e aqui é executado pela Banda da Casa Edison.

     
     


     


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