21/03/2016
Crítica – A Integral de Ernesto Nazareth por Maria Teresa Madeira
Ernesto Nazareth, nasceu em 1863, no
Rio de Janeiro, onde também faleceu
em 1934. As obras do notável
compositor, já receberam mais de
2.800 gravações em todo o mundo. Em
2014, as suas criações tornaram-se
Patrimônio Cultural da Humanidade,
Pela UNESCO.
Especialista na obra de Nazareth,
Maria Teresa Madeira, é bacharel em
piano pela Escola de Música da UFRJ
e mestre em Música pela Universidade
de Iowa (EUA). Além de ser solista
das diversas orquestras do país,
apresenta-se constantemente fazendo
música de câmara, na companhia de
importantes músicos brasileiros.
Para as comemorações dos 150 anos do
nascimento de Nazareth, Maria Teresa
registrou a primeira gravação
integral da obras do compositor,
interpretadas em piano solo numa
edição histórica, com 215 criações
divididas em 12 CDs.
No dia 20 de Março,
Domingo, tivemos um excepcional
recital de Maria Teresa Madeira na
Sala Cecília Meirelles, fazendo o
lançamento desta colossal seleção.
No programa:
Improviso, um estudo de concerto que
o compositor fez em homenagem a
Villa-Lobos, em 1922, como
agradecimento ao Choro nº 1, que
Villa compôs em 1921 com dedicatória
a Nazareth.
Foi um inicio bem clássico, em que
Maria Teresa, dominou com
facilidade, todas as nuances de
verdadeiro improviso espelhado em
Schubert.
Em seguida ouvimos “Digo”, um tango
característico, composto em 1900,
dedicado a gentil Srta. Constança
Teixeira. Brilhante interpretação
que esquentou definitivamente a
plateia.
Depois tivemos a valsa lenta,
“Fidalga”, que no manuscrito traz
escrito “Douleur Suprême”, obra de
1914, dedicada a extremosa tia
Ludovina da Cunha.
Sentida e comovida interpretação da
pianista numa homenagem à sua mãe.
Em sequencia, Zizinha, polca de
1895, dedicada a inteligente
discípula Zizinha Ripper.
Todo jogo lúdico da intérprete.
Buliçosa e charmosa.
Continuando, “Ouro sobre o Azul”,
tango brasileiro, de 1916, dedicado
ao amigo Dr. Flavio A. Gama. –
Interpretação marcada por secções
intercaladas e vibrantes.
Jangadeiro, tango brasileiro, de
1927, sem dedicatória na 1ª edição.
A visão matreira de uma
interpretação malemolente.
Até que enfim, Fox-trot, de 1926,
dedicado ao amigo Alfredo Avelino
Junior. Maria Teresa fez uma
homenagem, dançante e bem marcada à
equipe, que conduziu a produção de
todo o projeto.
Tivemos um intervalo e longas filas
se formaram para a compra dos CDs.
da série integral.
Na 2ª Parte:
Odeon, tango brasileiro, composto em
1910 e dedicado a distinta empresa
Zambelli & Cia, dona do Cinema Odeon,
onde o compositor tocava nos
intervalos das sessões
cinematográficas. Muitos aplausos
coroaram a versão carismática da
Maria Teresa.
Coração que sente, valsa de 1903,
dedicada a sua dedicada discípula
Sra. Gabrielle Cruz. Bela e emotiva
visão, na dolência de uma enluarada
Maria Tereza.
Elétrica, valsa rápida, dedicada ao
amigo e sobrinho Luiz Francisco
Leal. Contrastando, com a anterior,
tivemos uma pianista arisca e
virtuosa, saboreando todos meandros
desta composição delirante.
Tenebroso – tango brasileiro de
1913, dedicado ao bom e velho amigo
Satyro Bilhar. Sombrio e estranho,
este tango encontrou sua a
intérprete ideal. O piano soou
envolto em mistérios, plangente e
lastimoso.
Escorregando, tango brasileiro, 1ª
edição de 1925, dedicado a bela
Orquestra da Brahma, dirigida pelo
Maestro Russo. A versão de Maria
Teresa foi uma aula de um verdadeiro
estudo de notas repetidas, em que os
seus dedos resvalaram e deslizaram
sobre um teclado ofegante.
Batuque, tango característico, de
1901, 1ª edição de 1913. Foi
dedicado ao eminente pianista e
compositor, Henrique Oswald, que
assistiu Nazareth tocando esta obra
no Odeon e foi cumprimentá-lo. O
batuque é um ritmo que surgiu dos
rituais e celebrações dos cultos
afro-brasileiros. Maria Tereza o
anunciou como a última peça do
espetáculo e sua interpretação
energizou a plateia que aplaudiu
muito.
Com bis, tivemos: “Apanhei-te
cavaquinho”, polca de 1914, dedicado
ao destacado e particular amigo,
Juracy Nazareth de Araújo. – Maria
Tereza Madeira, tocou um cavaquinho
perfeito ao piano. Ouvíamos
nitidamente a palheta dedilhando o
pequeno e insinuante instrumento
brasileiro. Outros bravos e pedidos
de bis.
Maria Tereza volta triunfante e se
apresenta tocando “Brejeiro”, tango
brasileiro, de 1890, dedicado ao
amigo Alexandre Gama. Se há uma
definição sobre a artista Maria
Teresa Madeira, podemos resumir na
sua esplêndida interpretação do
Brejeiro. Brejeirice pura:
maliciosa, dengosa, excitante e
turbulenta, encerrou com chave de
ouro, o seu magnífico recital. Maria
Teresa Madeira de lei, um autêntico
Jacarandá de qualidade superior, ou
melhor, um Pau Brasil, bem
brasileiro.
Eu, Maria Teresa Madeira e o pianista Samuel Procópio.
|