Concurso Musical Internacional Rainha Elizabeth da Bélgica
(23/08/2015)
O Rei Alberto 1º, da Bélgica foi o primeiro
chefe de estado a visitar o Brasil, em 1920. Casado com
Elisabeth da Baviera (foto à direita), em 1900, veio a falecer num terrível
acidente, em 1934, quando ele realizava uma escalada, no
esporte da sua devoção, o alpinismo.
Desolada, Elizabeth criou, em 1937, o
“Concurso Musical Eugène Ysaye”, em homenagem ao compositor
belga. A partir de 1950, o concurso passou a ter o seu nome.
Ele é feito anualmente, revezando: canto, piano e violino. O
ano passado, o concurso foi dedicado ao canto e teve como
grandes vencedoras, a sul coreana, Sumi Hwang, 1ª colocada e
a belga Jodie Devos, classificada em 2º lugar. Como prêmio
elas estão dando recitais pelo mundo afora, e fazem
atualmente, uma excursão pelo Brasil.
No concerto realizado ontem na Sala Cecília
Meirelles, as duas lograram um grande feito, trazendo
momentos musicais inesquecíveis à nossa gente. Foi arte
demais para um público discreto, mas atento e caloroso. As
primeiras palavras vão para o pianista, participante de
solos, duos e trios que abrilhantaram o evento: Marco
Bernardo é maestro, solista e acompanhador de excelência,
sendo um dos responsáveis pelas Vesperais Líricas, em São
Paulo.
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Rainha Elizabeth da Bélgica |
O Concerto
O espetáculo começou com o duetino da Condessa e Sussana,
das Bodas de Fígaro de Mozart, “Che soave zeffiretto”, onde
a Condessa dita um bilhete a sua criada, armando uma cilada
ao seu marido, o incorrígivel Conde de Almaviva. As duas
cantoras apresentaram-se harmonicamente impecáveis. Lindas
vozes, unidas, coesas num trabalho que reviveu
primorosamente, o estilo clássico mozartiano.
Em sequência, ouvimos o belo timbre, sonoro
e quente, de Sumi Hwang, cantando dos Seis Romances Op. 4,
de Rachmaninoff, o de nº 4 “ Ne poy krasavitza pri mne” –
Não ouvirás o meu canto, oh minha bela. Cativante a
interpretação de Sumi, esbanjando talento num canto de
lírismo puro.
E chegou a vez de ouvirmos o solo da Jodie
Devos, soprano coloratura que surpreendeu a todos, com um
técnica apurada e segura, interpretando “Regnava nel
silenzio”, da Lucia de Lammermoor, de Donizetti. - Lucia
conta a sua confidente Alisa, que viu o fantasma de uma
menina assassinada, por um ancestral do seu amado Edgardo.
Muita emoção e bravura.
Volta Sumi cantando “Je veus vivre”, da ópera “Romeu e
Julieta”, de Gounod. Uma Julieta alegre, expressando toda a
vontade de gozar a liberdade da sua juventude.
E tivemos um solo primoroso do Marco
Bernardo, na interpretação da “Dança dos Espíritos
Abençoados”, da ópera “Orfeu e Eurídice”, de Gluck, no
arranjo de Sgambati. A peça, uma das preferidas de Guiomar
Novaes e Nelson Freire, soou solene e pungente nos dedos
mágicos de Marco.
Em seguida Sumi Hwang, interpretou duas árias: Si, mi
chiamano Mimi, de “La Bohème” de Puccini, onde a heroina
narra a sua vida simples e humilde. Vive só, costurando e
fazendo flores artificiais – logo após foi a vez de “Una
donna a quindici anni”, da ópera “Cosi Fan Tutte”, de
Mozart, onde a criada Despina, explica as duas irmãs,
Fiordiligi e Dorabella, o que as moças de 15 anos ou mais,
devem saber para lidar com os homens. Bonitas versões para
momentos tão diversos.
E volta Jodie para cantar também duas árias:
“O, mio babbino caro”, da ópera Gianni Schicchi, de Puccini,
onde Lauretta finge implorar ao pai que consinta o seu
namoro com Rinuccio – e, “Ah! Où va le jeune indoue”, da “Lakmé”,
de Delibes onde a sacerdotiza é obrigada pelo pai, a cantar
para atrair o intruso invasor, contando a lenda da filha um
pária, que salvou o filho de Brahma, Vishnu, com as suas
campainhas mágicas. - Fascinantes e faiscantes momentos da
diva Jodie Devos.
Mais um solo de de piano do Marco, no
prelúdio do 3º ato da Traviata, de Verdi, numa interpretação
comovente, preanunciando o triste final da cortezã infeliz.
Para finalizar os dois duetos famosos: A
“Barcarolle” da ópera “Os Contos de Hoffmann”, de Offenbach
– Julieta e Nicklauss , recebem os convidados que chegam de
gôndolas, para uma festa cantando, “Belle nuit, ô nuit d’amour”
e o “Dueto das Flôres” da Lakmé, de Delibes. Lakmè e sua
criada Mallika, colhem flores preparando-se para um banho
sagrado.
Momentos de beleza e encanto. A platéia
aplaudiu muito e um bis que acabou sendo o melhor da festa:
o famoso “Dueto dos Gatos”, que é atribuído a Rossini, mas
que realmente é uma compilação escrita por ele em 1825, de
uma obra do compositor inglês, Robert Lucas Pearsall. As
duas brincaram como gatinhas que adulavam e ronronavam uma
para a outra, com enlevo e meiguice, fechando com chave de
ouro, um entardecer com belíssimos momentos da música. Quem
assistiu, ficou inebriado com a arte das cantoras e o piano
sonoro e firme do Marco Bernardo.
Da esquerda para a direita,
Lauro Gomes, as cantoras Jodie Devos, Sumi Hwang
e o pianista Marco Bernardo.
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