19/05/2016
La Bohème, esplêndida em concerto
crítica da apresentação da ópera de
Puccini em versão de concerto no
Municipal do Rio
A estreia de La Bohème, de Puccini,
ocorreu no Teatro Regio, de Turim,
no dia 1º de fevereiro de 1896,
regida por Arturo Toscanini. A
crítica foi inteiramente
desfavorável, chegando a declarar
que a ópera era um declive
deplorável do compositor. Na
verdade, o público a consagrou,
tendo sido dadas vinte e quatro
representações consecutivas; um
êxito memorável.
Obra referencial no repertório
operístico, La Bohème, foi realizada
em forma de concerto, pela Fundação
Teatro Municipal do Rio de Janeiro,
vinculada à Secretaria de Estado de
Cultura (SEC), no dia 22 e continua
com apresentações nos dias e 26 de
maio, às 17h, e em 24 e 28 de maio,
às 20h. Apresentado pela SICPA
Tintas e Sistemas de Segurança e com
o patrocínio do BNDES, o concerto é
executado pelo Coro e a Orquestra
Sinfônica do TM.
Cristina Pasaroiu, soprano – Mimi,
florista
Nascida em Bucareste, na Romênia,
Cristina começou os seus estudos
musicais na Universidade de Música
Dinu Lipatti aos 12 anos de idade,
continuando no Conservatório
Giuseppe Verdi em Milão sob a
orientação do Maestro Vittorio
Terranova. Em 2009 se formou na
Universität für Musik und
Darstellende Kunst em Viena e
tornou-se membro do Programa Young
Artist em Bolonha, onde trabalha com
Dolora Zajick e Jaume Aragall.
Realizou recitais por toda a Europa.
Ivan Magri, tenor – Rodolfo, o
poeta.
Ivan Magri nasceu em Catania, na
Sicília. Começou seus estudos com a
professora Domenica Monti. Em 2005,
recebe um diploma com nota máxima no
Conservatório Giuseppe Verdi, em
Milão, onde estudou com Giovanna
Canetti e Wilma Borelli. Também
recebeu ensinamentos inestimáveis de
Luciano Pavarotti. Venceu muitas
competições internacionais, como
Riccardo Zandonai e Francesco Maria
Martini. Sua estreia foi no verão de
2006, como Ernesto em Don Pasquale.
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Cartaz da produção da
ópera no Theatro Municipal do Rio |
Marina Considera, soprano -
Musetta, operária.
Mestra pela UFRJ e Bacharel em Canto
pela Unirio. Estreou
profissionalmente em 2006 em A
Carta, sob a regência de H.
Morelenbaum. Integrou o Opera Studio
da Accademia Nazionale di Santa
Cecília sob a orientação de Renata
Scotto, Anna Vandi e Cesare Scarton.
Cantou no Auditorium Parco della
Musica, na Fundação Tito Gobbi, e no
Teatro Stabile di Abruzzo. Com a
OSB-O&R, estreou no TMRJ, onde atuou
também como Rossweisse em A
Valquíria, regência de L. Malheiro.
Homero Velho, barítono - Marcello,
o pintor.
Bacharel e Mestre pela Indiana
University of Music Bloomington, foi
artista da National Opera Company e
cantou The Ghosts of Versailles (Corigliano)
e Don Giovanni em Festivais nos EUA.
No Brasil, foi solista em A Viúva
Alegre (Danilo), A Flauta Mágica (Papageno),
Il Barbiere di Siviglia (Fígaro), Le
Nozze di Figaro(Almaviva), Lo
Schiavo (Gianfera), Turandot (Ping),
Ariadne auf Naxos (Harlekin), La
Bohème (Schaunard), Il Guarany
(Gonzalez), Magdalena (Padre José),
Maria Golovin, A Menina das Nuvens e
Yerma.
Felipe Oliveira, barítono –
Schaunard, o músico.
Ganhador de prêmios em vários
concursos de canto no Brasil,
transferiu-se em 2006 para Glasgow,
Escócia, onde concluiu os Mestrados
em Ópera e em Performance Vocal no
Royal Conservatoire of Scotland.
Desde 2011 vive em Modena, Itália,
sob a orientação de Mirella Freni.
Colaborou com a Royal Scottish
National Orchestra, Orquestra
Amazonas Filarmônica, Sinfônicas de
Minas Gerais, do Espírito Santo e da
Paraíba, Orchestra Regionale Dell’Emilia
Romagna e Regionale Abruzzese, entre
outras.
Murilo Neves, baixo – Colline, o
filósofo.
Bacharel em Canto Lírico pela UFRJ,
estudou com Ilza Corrêa no Rio de
Janeiro e Rita Patanè em Milão. Seus
trabalhos mais destacados incluem
Raimondo em Lucia di Lammermoor no
Festival Amazonas de Ópera, Pistola
em Falstaff no Teatro Solís em
Montevideo e Peter Quince em A
Midsummer Night’s Dream no Parque
Lage/RJ. Apresentou-se em grandes
teatros do Brasil, como Theatro
Municipal do Rio (Primeiro Soldado
em Salome, Alonso em Il Guarany,
entre outros), Theatro São Pedro em
São Paulo (Le Bailli em Werther) e
Palácio das Artes em Belo Horizonte
(Roucher em Andrea Chénier).
Inácio De Nonno, barítono –
Benoit, senhorio e Alcindoro,
Conselheiro de Estado.
Com longa e premiada carreira
lírica, Inacio De Nonno é doutor em
Música pela Unicamp e Mestre em
Música – suma cum laude – pela UFRJ,
onde é professor nas classes de
Canto. Prêmio Especial para a Canção
Brasileira no XII Concurso
Internacional de Canto/RJ, de seu
repertório constam mais de 30
primeiras audições mundiais de peças
e óperas especificamente para ele
compostas.
O concerto conta ainda com as
participações de integrantes da
Academia de Ópera Bidu Sayão, do
Theatro Municipal – Bruno dos Anjos
e Guilherme Moreira (revezando-se no
papel de Parpignol) e Patrick
Oliveira (Guarda) – e também com o
Coral Infantil da UFRJ. A direção
musical e a regência são do Maestro
Eduardo Strausser, que fez sua
estreia no TMRJ.
Em La Bohème, Puccini criou um
espetáculo que narra a história de
artistas e pessoas comuns que
conviviam pobremente, na Paris do
final do século XIX. É inverno em
Paris. A ópera apresenta os amigos:
Rodolfo (poeta), Marcelo (pintor),
Schaunard (músico), Colline
(filósofo) e as paixões dos dois
primeiros, Mimi e Musetta,
respectivamente. As relações entre
eles estão permanentemente em
conflito, motivadas pelo ciúme e
pelas inseguranças do grupo, pela
pobreza a que estão reduzidos. Mimi
morre ao final da ópera, vitima de
uma tuberculose agravada pelo
abandono, desamparo e a falta de
recursos.
Tivemos uma apresentação brilhante.
Os personagens surgiram nos
mostrando cantores de grande
categoria:
Ivan Magri, já consagrado por todo
mundo, confirmou tudo o que sabíamos
dele: Voz, imponência, carisma,
simpatia, enfim um Rodolfo de grande
projeção internacional. Maravilhosa
apresentação. Na sua ária “Che
gelida manina”, arrebatou o público
do teatro. Perfeito no dueto “O
soave fanciulla”, junto a fantástica
Cristina Pasaroiu, deram em unísono,
afastando-se de costas, um
explêndido dó agudo, que perdeu-se
no espaço. Durante toda a récita,
foi uma figura atuante e viva que
deixará saudades.
Cristina Pasaroiu, um belíssimo
timbre escuro e quente, fez uma Mimi
encantadora. Suas árias: “Si, mi
chiamano Mimi” e “Addio, senza
rancor!”, soaram com perfeição e
agrado da plateia, que foi se
esquentando paulatinamente. O dueto
“Sono andati?”, foi envolvente e um
grande triunfo como final. Bravos a
esta cantora romêna, que ainda dará
muito o que se falar dela no futuro.
Homero Velho, foi um Marcello sem
máculas. Voz bonita, potente e
viril, dominou todas as sua cenas
com desenvoltura, principalmente no
3º ato:
“O buon Marcello, aiuto!” - dueto –
Mimi e Marcello.
“Marcello, finalmente!” – “Mimi è
una civetta” – duetos – Rodolfo e
Marcello.
“Che facevi, che dicevi” – quarteto
– Rodolfo, Mimi, Marcello e Musetta.
Marina Considera, foi uma Musseta
preciosa. Presença cênica, voz
belíssima e segura. Deu uma aula de
canto na sua ária “Quando me’n vo”.
Eficiente e atenta, brilhou como uma
verdadeira diva. Aplausos calorosos
ao final do espetáculo.
Felipe Oliveira, foi um dos melhores
Schaunard que já ouvi. Não há
pequenos papéis, e sim intérpretes
que não sabem aproveitar e
valorizá-los. Felipe foi um
Schaunard de luxo. Voz intensa e
bela. Um ótimo ator em cena. Sabe
interagir com os colegas. Um
trabalho admirável.
Murilo Neves, completou o quarteto
de amigos, com elegância e brilho.
Desenvolto e presente sempre. Cantou
“Vecchia zimarra senti” com
contenção e emoção singela. Perfeita
a sua participação.
Inacio de Nonno, veterano cantor, de
grandes méritos, sendo um comediante
latente, fez dos seus pequenos
personagens, Benoit e Alcindoro, bem
distintos só na maneira de agir e
encarar. Sem truques de maquilagem,
atuou com requintes que só a
experiência concebe.
Bruno dos Anjos (revezando-se no
papel de Parpignol) e Patrick
Oliveira (Guarda), participações
eficientes e positivas. Grandes
perspectivas para um brilhante
futuro.
O Coral Infantil da UFRJ, preparado
com esmero, afinco e segurança, por
Maria José Chevitarese.
Coro como sempre, em grande nível e
bem preparado por Jésus Figueiredo.
A orquestra cantou lindamente
durante todo o evento. Bravos aos
professores.
A direção musical e a regência do
Maestro Eduardo Strausser, que fez
uma ótima estreia no TMRJ.
Vocês não podem perder. Grandes
vozes, grandes momentos musicais,
concerto de nível internacional.
Vale a pena sair de casa para
aplaudir com entusiasmo os bravos
artistas.
LA BOHÈME – Ópera em quatro atos
CORO E ORQUESTRA SINFÔNICA DO
THEATRO MUNICIPAL
Música – Giacomo Puccini
Libreto – Giuseppe Giacosa e Luigi
Illica,
com base em Cenas da Vida Boêmia de
Henry Muger
Direção Musical e Regência – Eduardo
Strausser.
Solistas:
Cristina Pasaroiu, soprano – Mimi
Ivan Magri, tenor – Rodolfo
Homero Velho, barítono – Marcello
Marina Considera, soprano – Musetta
Felipe Oliveira, barítono –
Schaunard
Murilo Neves, baixo – Colline
Inácio De Nonno, barítono – Benoît e
Alcindoro
Bruno dos Anjos* e Guilherme
Moreira*, tenores – Parpignol
Patrick Oliveira*, baixo – Guarda
*Integrantes da Academia de Ópera
Bidu Sayão, do Theatro Municipal
Coral Infantil da Universidade
Federal do Rio de Janeiro / UFRJ
Regente – Maria José Chevitarese
Coro do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro
Maestro Titular – Jésus Figueiredo
Theatro Municipal do Rio de Janeiro
.
Á esquerda, eu e o bravo Schaunard, o barítono Felipe Oliveira. A direita, eu e o notável tenor, Ivan Magri, após La Bohème.
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