Ícone da Era dos Festivais, Geraldo
Vandré acaba com um silêncio de 50 anos e volta aos palcos
pela primeira vez desde que cantou
na noite de 1968 no Maracanãzinho, a
música "Caminhando" (Pra não dizer
que não falei de Flores),
concorrendo ao III FIC (Festival
Internacional da Canção) promovido
pela Rede Globo, que trasmitia ao
vivo o certame.
Neste Festival, Vandré concorria com
outros pesos pesados da MPB, como
Chico Buarque e Tom Jobim, que neste
festival concorriam com "Sábia",
canção composta pela dupla, e
interpretada pelo Quarteto em Cy.
A canção de Vandré - na época um
verdadeiro superstar dos Festivais,
com milhares de fãs pelo Brasil
afora - continha
versos que protestavam
explicitamente contra as Forças
Armadas (Há soldados armados /
Amados ou não
/ Quase todos perdidos /
De armas na mão /
Nos quartéis lhes ensinam /
Uma antiga lição
/ De morrer pela pátria /
E viver sem razão). Sendo isto cantado em plena época do governo militar, a
consequência não poderia ser outra:
Vandré acabou incomodando muito mais
do que devia, e isto afetaria
defintivamente sua carreira
artística daí para frente.
No Festival de 68, a platéia era na
maioria formada por jovens, e muitos
deles estudantes e universitários
bastante envolvidos com o estado de
espírito geral de "abaixo a
repressão" que reinava na juventude
da época (vamos lembrar que
estávamos no fim dos anos 60, época
em que a juventude estava se
rebelando contra a "caretice" no
mundo inteiro: Woodstock, liberação
da mulher e da sexualidade, hippies,
psicodelia), e os jovens
brasileiros, principalmente os das
grandes capitais, seguiam esse
estado de espírito.
Assim, músicas que soltavam "farpas"
na "repressão" agradavam em cheio a
essas platéias. Independente de se
as composições eram tecnicamente
superiores. "Sabiá", harmonicamente
e melodicamente, era mais inovadora
e arrojada que a composição de
Vandré, porém a letra de Chico e Tom
Jobim era bem menos explicita em
protestar contra algo -
principalmente contra o governo da
época.
O fato é que o Júri acabou dando o
primeiro lugar para "Sábia", e o
segundo para a música de Vandré, o
que causou a ira da platéia presente
no Maracanãzinho. Antes de começar a
interpretar a música pela última vez,
após serem anunciados os finalistas,
Vandré teve que pedir
ao público silêncio, pois o estádio foi tomado por gritos
de "É Marmelada", e vaias ensurdecedoras da
platéia para o Júri.
Depois disso, o video-tape com a gravação de sua apresentação no Festival foi censurado e, alegadamente, destruído. Porém, sobrou o áudio, que pode ser ouvido em postagens no Youtube, inclusive com o pedido de silencio e de respeito a Chico e Tom, que Vandré pediu ao público antes de começar a cantar. "Caminhando" foi censurada e proibida de ser gravada, apresentada em público ou transmitida pelo rádio e TV nos 11 anos seguintes.
Desde então, Vandré nunca mais voltaria a pisar em um palco no Brasil..
Nunca mais até agora. Pois para a
surpresa geral, foi noticiado essa
semana que Geraldo Vandré
finalmente encerrou o exílio
artístico e irá se apresentar em um
espetáculo musical todo dedicado a
suas obras. O concerto/recital acontecerá nos dias 22 e 23
de Março, na Sala de Concertos Maestro José Siqueira,
em João Pessoa, PB .
O concerto terá dois atos. No primeiro, Vandré sobe ao palco acompanhado da pianista Beatriz Malnic, com quem executa seis peças para piano compostas pela dupla.
Já no segundo ato, a Orquestra Sinfônica da Paraíba, acompanhada do Coro Sinfônico do Estado, executará composições de
Vandré, incluindo a célebre e
censurada "Pra não dizer que não falei de flores". Vandré
declarou que, neste concerto,
conforme "o calor da emoção", poderá recitar poemas
escritos por ele.
Enfim, uma volta triunfal, com
direito a acompanhamento de
Orquestra Sinfônica e Coro, da forma
como este ícone da história da MPB
merecia.
Sala
de Concertos José Siqueira: Rua
Abdias Gomes de Almeida, 800 -
Tambauzinho - João Pessoa (Espaço Cultural José Lins do Rêgo).
ENTRADA FRANCA
Os ingressos para os dois dias de apresentação serão distribuídos no dia 21 de março, a partir das 10h, no Espaço Cultural
Texto: Roberto Carelli
(contato)
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