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  • Don Pasquale no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (25/09/2015)

    Meus amigos, não faço críticas e sim comentários, mas como é bom fazê-los depois de assistir um espetáculo que supera as expectativas. Todos os solistas que participam do belíssimo Don Pasquale, são meus amigos e é maravilhoso poder falar bem deles.

    Don Pasquale é uma ópera cômica em três atos de Gaetano Donizetti, com libreto de Giovanni Ruffini. Foi escrita quando Donizetti fora nomeado diretor musical da corte do imperador Fernando I da Áustria, e foi a antepenúltima das 66 óperas que escreveu.

    O espetáculo apresentado no Theatro Municipal carioca nessa sexta-feira (25), tem a montagem original da associação argentina Buenos Aires Lírica, sob a direção do carioca André Heller-Lopes.
    No elenco, o solista barítono Sandro Christopher no papel do protagonista Don Pasquale, o soprano Ludmila Bauerfeldt (Norina), o tenor Luciano Botelho (Ernesto), o barítono Homero Velho (Malatesta) e o baixo Murilo Neves (Notário). Na direção musical e regência, o maestro Silvio Viegas. Don Pasquale deu início à temporada lírica do segundo semestre de 2015 do Theatro Municipal do Rio.

    Vou começar as minhas considerações, com um elogio a concepção primorosa do diretor cênico André Heller. É linda, simples e correta. A associação com a Comédia Dell’Arte, é perfeita. Pantaleão, Arlequim, Colombina e Pierrot, se enquadram nos parametros dos personagens principais. Num palquinho no centro da cena, desenvolvem-se com desenvoltura as peripécias da ópera. Cenários dignos, leves e bonitos, se juntam aos maravilhosos figurinos e uma iluminação correta e limpa.

    Destaques 1º ato.
    A ária de Malatesta descrevendo a Pasquale a sua pretensa noiva, “Bella siccome un angelo” – (Bela com um anjo) – O Malatesta (Arlequim) de Homero Velho foi austuto e matreiro, como convém ao personagem. Voz firme e brilhante, cantou a sua ária com graça e sutileza. O arroubo do Pasquale (Panteleão) cantando que o amor tomou conta dele.”Ah, un insolito foco”- (Um súbito incêncio) - Vimos o veterano Sandro Christopher, brilhar numa comicidade leve, sem exagerar nos trejeitos. Convincente e seguro e sobretudo brincando com o personagem. Muito engraçada a cena com os figurantes segurando extintores para apagar a fogueira ardente do Pasquale.

    Reação de Ernesto (Pierrot) a suposta traição de Malatesta “Mi fa il destino mendico”- (O destino me fez de mim, um mendigo) .Tivemos a linda voz de Luciano Botelho, pequena em volume mas muito bem projetada, fazendo graça e bastante solto, fez uma bela apresentação sem problemas. Norina (Colombina) em sua ária “So anch’io magica la virtù”- (Eu também sei que as tuas virtudes mágica) – foi sublime. Tivemos um momento memorável no nosso Municipal. O soprano Ludmilla Bauerfeldt já é uma diva consumada. Voz lindíssima, apuro técnico, desenvoltura cênica, enfim, praticamente roubou o espetáculo, numa interpretação consciente, musical e exemplar. Bravos a nova estrela que surge radiante.


    Lauro Gomes com Ludmilla Bauerfeldt após o seu triunfo no Don Pasquale.

    Norina e Malatesta, encerram o ato na discussão das suas estratégias em um dueto animado “Pronta filho; purch'io não manchi “ – (Estou pronta, se eu não perca...) Animado bem desenvolvido, o duo em que as vozes e a cena resultaram em fino acabamento.

    No 2º ato.
    Ernesto está sozinho: lamentando seu destino, ele considera sua decisão de deixar Roma “Cercherò lontana terra”- (Vou buscar uma terra distante). Na cena, Ernesto está na banheira tomando banho para a sua viagem, foi um grande achado da direção. Graciosa e inteligente, com malícia espontânea e divertida. Luciano brilhou cantando numa posição díficil para segurar o diafragma.

    Tomando o seu lugar, o "notário", escreve um contrato de casamento, como ditado por Malatesta e Pasquale (Fra da una parta) - "Entre, por um lado"), onde o Don lega toda sua herança para ser administrada por Sofronia. O baixo Murilo Neves na sua pequena participação foi bem divertida e histriônica.
    O Duo com Malatesta, segurando Ernesto para não estragar toda a trama, seguiu entoada sem oscilações: (Figliol non mi cena distante) “filho não faça uma cena”. Ernesto é forçado e agir como testemunha para a alegria de Don Pasquale.

    E a cena prossegue. Pasquale fica horrizado com a transformação da sua esposa, enquanto Malatesta e Ernesto mal conseguem esconder as suas maquinações: (rimasto E la impietrato) “Ele está ali petrificado” – Cena bem urdida e jocosa. Nossos cantores brilharam.

    3º ato
    Desnorteado diante a pilha de jóias, vestidos e um monte de compras recém adiquiridas por Norina, Pasquale perplexo exclama “I diamanti presto presto- “Os diamentes, rápido, rápido”. Norina surge pronta para ir a um teatro. Pasquale tenta argumentar mas Norina não lhe dá atenção. “Signorina, em tanta fretta” (Senhora, onde vai com tanta pressa) Norina responde:”Via, caro sposino”- (Não querido maridinho) - A discussão termina com Norina esbofeteando Pasquale. Cena bem resolvida em que os cantores cantaram com muita cumplicidade e empenho.

    Em sequência o divertido “Che interminabile andirivieni”– (Que interminável vai e vem) – Muito boa a participação segura e alegre do coro.
    Pasquale trama sua vingança com a ajuda de Malesteta “aspetta, aspetta, cara sposina” – (Espere, espere, querida esposa). Muito bom o entrosamento rítmo dos cantores.

    Em seguida, a melhor participação do tenor Luciano Botelho, na noite - Ernesto canta seu amor por Norina, enquanto espera por sua chegada “com'è gentil”- (Como é lindo). Com o acompanhamento do coro na platéia. Por fim, Norina emerge, e eles expressam seu amor: “Tornami um dir che m'ami “- (Diga-me mais uma vez que você me ama). Lindos momentos musicais de puro encantamento.

    E chegamos ao final. Todos estão reconciliados e a moral da história – não se casar na velhice – é revelado num quarteto brincalhão – “La di tutto questo moral” – (A moral de tudo isso).

    Muitos aplausos. Bravos aos nossos cantores, a nossa orquestra e a participação do pequeno coro. Bravos ao maestro Silvio Viegas, ao Heller e todos da produção. Ótimo espetáculo. Diversão e encantamento garantidos. Não percam. Novos espetáculos nos dias 29 e 30 ás 20 horas.

     

     

     



     


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