03/04/2016
Crítica da ópera Dom Quixote no
Municipal do Rio
Apresentação
do dia 13 de abril no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro
A ópera “Dom Quixote”, de
Massenet, estreou em 1910 na Ópera de Monte Carlo, em
Mônaco.
No Brasil, a ópera foi
apresentada pela primeira
vez, no dia 6 de agosto de
1926, em récita única no
Theatro Municipal do Rio de
Janeiro, organizada pelo
empresário Walter Mocchi.
Encerrada a temporada
carioca, em 11 de agosto, a
companhia de Mocchi rumou
para São Paulo, onde o
público paulistano conheceu
o Dom Quixote, de Massenet,
em récita no Theatro
Municipal no dia 16 de
agosto de 1926, dez dias
após a estreia no Rio.
DOM QUIXOTE – Ópera em
cinco atos
CORO E ORQUESTRA SINFÔNICA
DO THEATRO MUNICIPAL
Coprodução com o
Theatro São Pedro (SP)
Música – Jules Massenet
Libreto – Henri Cain, com
base na peça Le Chevalier de
La Longue
Figure, de Jacques Le
Lorrain, inspirada na obra
de Miguel
de Cervantes.
Direção Musical: Luiz
Fernando Malheiro
Regência: Luiz Fernando
Malheiro e Pedro Messias
Concepção e Direção Cênica –
Jorge Takla
Cenografia – Nicolas Boni
Figurino – Fábio Namatame
Desenho de Luz – Ney
Bonfante
Coreografia – Nuria Castejón
Após uma triunfal carreira e
aclamada pela crítica e pelo
público de São Paulo, ontem
vivenciamos a estreia
consagradora da ópera Dom
Quixote, de Jules Massenet,
realizada pela Fundação
Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, em coprodução com o
Theatro São Pedro, de São
Paulo. Inspirada na obra de
Miguel de Cervantes, esta
montagem com o patrocínio do
BNDES, foi apresentada pelo
Coro e a Orquestra Sinfônica
do Theatro Municipal.
No elenco: o baixo
estadunidense Gregory
Reinhart, no papel-título,
teve uma participação
primorosa, rica em todos os
detalhes. Voz potente e
sonora, porte e
caracterização fantástica,
foi a própria encarnação de
Quixote. Uma atuação
comovente seria a definição
exata. Ficará eternizado na
memória de todos que tiveram
o privilégio de vê-lo em
cena. |
Luisa Franscesconi e Lauro
Gomes
após o espetáculo |
A mezzo-soprano Luiza Francesconi,
como Dulcineia, foi no mínimo,
arrebatadora. Voz lindíssima,
redonda, clara, dona de uma técnica
excepcional, dominou e envolveu a
todos, com muito charme e brilho.
Além de ser uma atriz excelente,
ainda revelou-se como uma dançarina
de amplos recursos.
O barítono Eduardo Amir, viveu um
Sancho Pança enternecedor. Voz
poderosa e intensa, dominou o jogo
cênico com desenvoltura e simpatia.
Autêntico no papel do fiel
escudeiro, submisso e valoroso.
Tornou inesquecível a sua
participação neste elenco de
verdadeiros divos.
Ainda tivemos as participações
seguras e vibrantes das sopranos
Roseane Soares e Marianna Lima, do
tenor Anibal Mancini e do barítono
André Rabello. Todos com vozes
dignas de encarar personagens
centrais nas grandes óperas.
A montagem de Jorge Takla, foi o
resultado de um harmonioso trabalho
inspirado no estilo das gravuras do
francês Gustave Doré – ilustrador de
clássicos como A Divina Comédia, de
Dante, em 1861, e do próprio Dom
Quixote de la Mancha, de Cervantes,
em 1863.
A cenografia de Nicolas Boni,
belíssima em telões pintados e
recortados em relevos, mostrando que
a imaginação retrata com a emoção de
um sonho.
A luz foi projetada sob a inspiração
de Ney Bonfante. Magnífica em todos
os ângulos. Precisa e poética.
Figurinos exatos e fulgurantes de
Fábio Namatame.
A direção cênica de Jorge Takla,
confirma apenas, que ele é dos
maiores encenadores do mundo
atualmente.
|
O baixo Gregory Reinhart com Lauro
Gomes |
A coreografia do balé flamenco de
Nuria Castejón: bela, eletrizante e
uma bravíssima participação do corpo
de baile.
O coro misto e o coro masculino,
brilharam com a segurança de sempre.
Sempre atento, Luiz Fernando
Malheiro, na direção musical e
regência, encarou com pulso firme,
decisão e rigor fazendo a orquestra
cantar como nunca.
Pra quem ama o teatro e a ópera em
particular, não pode em hipótese
nenhuma, perder esta montagem. Há
muito tempo não se via um espetáculo
tão impactante como este. É para se
aplaudir e gritar muitos bravos em
louvor a estes guerreiros valentes.
Enfim uma ópera com cara de ópera,
com direito a uma montagem
lindamente digna, e que senhora
montagem! |