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  • 20/05/2018

     

    Darcy Ribeiro, um depoimento

    por Ricardo Tacuchian


    Em 1978 Darcy Ribeiro lançou, pela Avenir Editora, um pequeno livro intitulado UnB: invenção e descaminho, com ilustrações de seu amigo Oscar Niemeyer. Foi uma das leituras mais empolgantes e, ao mesmo tempo, mais tristes que eu fizera até então. Era, antes de tudo, o retrato de uma época sombria quando a inteligência brasileira fora humilhada pela mão do opressor. Embora todos já conhecessem a história, a forma como Darcy conta sua utopia de reconstruir o Brasil, através de uma nova Universidade era empolgante. Fiquei tocado por três razões: primeiro porque sou um cidadão brasileiro. Em segundo lugar pelo fato de eu ser um educador militando, desde jovem, na Universidade brasileira, tendo sofrido seguidas discriminações devido às minhas convicções políticas. E, finalmente, porque acompanhei como testemunha ocular, a aposentadoria precoce da UFRJ de uma das maiores figuras da música brasileira, o maestro José Siqueira, tendo por base o AI 5. Siqueira, além de trabalhar na mesma Universidade que eu, fora, antes, meu professor e era um grande admirador das idéias de Darcy Ribeiro.

    Não importa se o projeto Darcy Ribeiro era ambicioso demais para a época. Este era o seu perfil, sempre à frente de sua época, polêmico e apaixonado. Sua decepção amarga pode ser constatada neste pequeno trecho do livro referido acima: “Meses atrás, passando rapidamente por Brasília, de volta de uma viagem a Manaus, visitei o campus da Universidade de Brasília que não via há quatorze anos. Não será novidade para ninguém que me emocionei muito, ao rever a macega brasiliana na beira do lago Paranoá que eu conhecera tanto, substituída por gramados e arvoredos, ruas e edificações. Onde o bosque de árvores regionais que se tinha previsto? Onde os renques de buritis? Onde tanta coisa mais apenas pensada, mas que eu procurava no chão do mundo, cobrando, querendo que se tivesse concretizado por milagre?”

    Darcy Ribeiro nunca obteve respostas a estas indagações.

    Mais tarde tive contato pessoal com Darcy Ribeiro na Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, onde eu coordenava projetos de música, dentro da filosofia da Animação Cultural. Darcy, inquieto e questionador, estava sempre a frente das atividades e apoiando novas propostas que valorizassem a autêntica manifestação cultural da população do interior do Estado. Uma dessas atividades, talvez um pouco teatral mas, na verdade, o resultado de um profundo trabalho de base de vários anos, foi o Grande Concerto que eu regi, com uma banda composta por dois mil músicos fluminenses, membros de bandas de todo o Estado do Rio, se apresentando, em 1985, na Praça da Apoteose (outra invenção dele com Niemeyer). Foi o maior conjunto instrumental de toda a história da música brasileira. Este delírio só poderia ser possível com um Secretário de Cultura como Darcy Ribeiro.

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    Ricardo Tacuchian
    Compositor e Regente
    Membro da Academia Brasileira de Música

    (textos publicados nas colunas deste portal são de inteira responsabilidade de seus autores. Dúvidas ou questões, entrar em contato diretamente com o autor)

    Foto: Darcy Ribeiro (reprodução da internet)

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