Ciclo
Scriabin - Critica do
3º concerto (23/09/2015)
Sala Guiomar Novaes
23 de setembro 12h:30 e
18h:30
Ciclo Scriabin
Scriabin sob influência do
misticismo de Liszt.
Silas Barbosa e João Elias –
piano
Scriabin - 2 Poemas op. 63
(Silas Barbosa)
Masque
Étrangeté
- Vers la Flamme op. 72
- 2 Morceaux op. 57
Désir
Caresse dansée
- Sonata nº 5 em Fá op. 53 "Le
Poème de l'Extase"
Liszt - Années de Pèlerinage
(João Elias)
Deuxième année - Il
Penseroso
- Valsa Mefisto nº 1
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCERTO:
Scriabin, nos princípios do
século XX, afastou-se da
fase romântica. Foi
personalizando e evoluindo o
seu discurso musical,
transformação que podemos
sentir através das suas dez
sonatas, das quais as
últimas cinco dispensam já
as armações de clave e
revelam passagens claramente
atonais.
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Silas Barbosa,
Lauro Gomes e João Elias no
3º Concerto do Ciclo
Scriabin. |
A harmonia convencional é
substituída por sistemas de acordes
construídos sobre intervalos
invulgares, preferencialmente
quartas, e a articulação é
dissolvida, tomando muitas vezes uma
forma de som em massa, em que os
vários acontecimentos se cruzam e
atropelam.
Os 2 Poemas op. 63, foram compostos
em 1912, são peças bem curtas mas
definitivamente marcantes como
momentos, em que ele pretendia
incutir no público, uma espécie de
êxtase místico.Masque (mascarada), é
uma máscara do próprio caráter de
Scriabin: sensualidade e paixão,
perambulando sem destino, flutuando
no ar.
Étrangete (estranheza) –
Causa um impacto excêntrico
pelas secções rápidas e
breves, de sons que se
dissolvem como chamas
ligeiras que se apagam
Vers la Flamme (em direção a
chama), composição de 1914 –
O compositor dominado pelo
misticismo em suas últimas
composições, previa a
destuição da terra,
consumida pelo fogo interno.
Seria a sua 11ª sonata, mas
pressionado por
necessidades, mandou
publicar logo sem
desenvolvê-la, como apenas
um poema.
2 Morceaux (2 peças),
compostas em 1908 – obras
também diminutas, refletem o
lado erótico, preconizando o
amor lascivo.
Désir (desejo) - a vontade
da posse, do prazer carnal.
Caresse dansée (caricia
dançada) – Sensualidade
exaltada numa dança
sedutora.
Sonata nº 5 em Fá op. 53 "Le
Poème de l'Extase" –
Composta em em apenas 6
dias, entre 8 de 14 e
dezembro de 1907. Em um só
movimento, procedimento que
Scriabin continuaria a
manter nas suas 5 sonatas
sequentes. Nesta obra ele
incluiu um epígrafe estraído
do seu ensaio “Le Poème de
l’Extase”. A sonata não
contém qualquer cadência
perfeita e nem qualquer
acorde consoante.
Silas Barbosa
É sem dúvidas, um pianista
que está entre os grandes
talentos da nova geração.
Com quase 20 prêmios na sua
carreira, Silas destacou-se
mais uma vez numa
performance brilhante.
Altivo, musical e
compenetrado, mergulhou com
profundidade no universo de
Scriabin. Não mediu
consequências, expressando
com consciência, as várias
oscilações de uma obra
ofegante, cheia armadilhas e
variações rítmicas. Bravos
ao corajoso e destemido
artista. |
Myrian Dauelsberg falando
sobre as obras de Scriabin
durante o concerto (foto:
Lauro Gomes) |
Liszt compôs o seus “Années de
Pèlerinage”, entre 1837 e 1849. Os
Deuxième année, se constituem de 7
peças e foram inspiradas pela sua
perigrinação pela Itália.
Il penseroso (o pensador), 2ª das
peças, deve a sua criação a uma
escultura que se destaca na Tumba de
Lorenzo de Medici, esculpida por
Miguelângelo - a figura de homem
sentado numa pose reflexiva, com o
braço esquerdo apoiado e o dedo
indicador encurvado sobre o lábio
superior. É uma alegoria à
filosofia. É obra em movimento lento
que nos remete a meditação.
A Valsa Mefisto foi inspirada no
“Fausto” de Nokolaus Lenau, poeta
austríaco. Liszt compôs 4 versões
desta obra, sendo que a primeira foi
a que se consagrou definitivamente.
Na história, Fausto e Mefistófeles
passando por uma aldeia, entram numa
estalagem, onde há um baile
celebrando um casamento.
Mefistófeles se aposa de um violino
e toca freneticamente. Fausto
conquista a filha do estalajadeiro e
enquanto dançam, Mefistófeles rí com
escárnio pela dança de Fausto. O
casal se retira para o campo. O
baile continua enquanto a sedução se
consuma. De repente um rouxinol
canta e a dança acaba num crescente
rápido, com uma sequência de oitavas
furiosas.
João Elias
Iniciou seus estudos musicais aos 11
anos de idade, graduou-se, em 2009,
pelo Conservatório Brasileiro de
Música do Rio e, atualmente,
aperfeiçoa-se com Myrian Dauelsberg.
Segundo o pianista Nelson Freire, “é
um dos pianistas mais talentosos da
nova geração brasileira”. Mais uma
vez, João Elias apresentou-se com
muita sensibilidade e o brilhante
virtuosismo que Liszt exige. Grandes
momentos de introspecção e de apuro
técnico, com uma apresentação
vertiginosa. Bravíssimos ao jovem
intérprete.
Aplausos extras a Myrian Dauelsberg,
pela coragem e bravura de incumbir
aos seus jovens pupilos, na
preparação deste extraordinário
ciclo dedicado a Scriabin.
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