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  • 17/10/2015
    Crítica da ópera As Bodas de Fígaro no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
     - récita de 26/11/2015

    Le nozze di Figaro (em português As bodas de Fígaro) é uma ópera-bufa em quatro atos .
    Música – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
    Libreto – Lorenzo Da Ponte (1749-1838) a partir de Le Mariage de Figaro, Pierre Beaumarchais (1732-1799)
     


    Produção original do Theatro São Pedro (São Paulo)
    Desenho de Luz – Wagner Pinto
    Figurino – Fábio Namatame
    Cenografia – Nicolàs Boni
    Direção de Cena – Livia Sabag
    Regência – Tobias Volkmann

    Solistas da récita de 26 de novembro
    Susana – Chiara Santoro, soprano
    Fígaro – Felipe Oliveira, barítono
    Conde de Almaviva – Manuel Alvarez, barítono
    Condessa de Almaviva – Marina Considera, soprano
    Cherubino – Malena Dayen, mezzo-soprano
    Don Bartolo – Savio Sperandio, baixo
    Marcelina – Beatriz Pampolha, mezzo-soprano
    Basilio – Cleyton Pulzi, tenor
    Antonio – Frederico de Oliveira, barítono
    Barbarina – Luiza Lima, soprano
    Don Curzio – Guilherme Moreira, tenor


    Lauro Gomes com o barítono Felipe Oliveira

    A história
    A ópera tem lugar em Sevilha, alguns anos depois dos fatos narrados em Il barbiere di Siviglia, em que o conde de Almaviva tinha conseguido casar-se com Rosina, graças à astúcia do barbeiro Figaro. Mas, se em Il barbiere o amor que triunfava era o do conde, em Le nozze di Figaro é o do criado. Não por acaso, esta ópera inspira-se numa comédia de Beaumarchais escrita com uma mentalidade tão antiaristocrática como a Revolução Francesa (1789) que explodiu cinco anos depois da estreia da obra (1784). Efetivamente, em Le nozze di Figaro (1786), quem está a ponto de casar-se é Figaro, convertido agora em criado de Almaviva e da sua esposa Rosina, a condessa. A felicidade, porém, dos futuros esposos – Figaro e Susanna – está ameaçada porque o conde julga ter o Direito do Senhor, que dava ao patrão o privilégio de passar a noite de núpcias com sua empregada, antes do futuro marido e, de fato, o que explica o argumento é a maneira como o criado consegue vencer e ridiculizar as pretensões sexuais do aristocrata.

    PRIMEIRO ATO
    No primeiro ato, expõe-se o problema – Figaro percebe as intenções do conde – e mostram-se as dificuldades que o criado terá de vencer: A prepotência do amo, as pretensões de Marcellina, que conserva um documento em que Figaro se compromete a casar-se com ela se não lhe devolver um empréstimo, a hostilidade dos velhos criados da casa, Bartolo e Basilio, e ainda, complicando tudo, a presença do pajem Cherubino, apaixonado pela condessa.

    Cenas principais:
    “Cinque... Dieci... Venti...” – Figaro e Suzanna
    “Suzanna or via sortita” – Conte, Contessa e Suzanna
    "Se vuol ballare" - Figaro "La vendetta" - Doctor Bartolo
    “Via, resti servita” – Marcellina e Suzanna
    "Non so più cosa son, cosa faccio" - Cherubino
    “Cosi sento! Tosti andati” – Conte, Basilio e Suzanna
    “Giovani liete” - Coro
    "Non più andrai" - Figaro

    SEGUNDO ATO
    No segundo ato, Figaro explica a sua estratégia para solucionar o problema, em que participam todos os danificados pela arrogância do conde, mesmo a sua esposa, Rosina, que se sente pouco estimada pelo marido. A estratégia consiste em fazer chegar ao conde um escrito anónimo que o informa de um iminente encontro amoroso da condessa e outro escrito assinado por Susanna em que quer encontrar-se com ele. Desta maneira, o conde mostrar-se-á como um marido tão autoritário e ciumento como infiel.

    Cenas principais:
    "Porgi, amor, qualche ristoro" - Condessa de Almaviva
    "Voi, che sapete" - Cherubino
    "Venite, inginocchiatevi" - Susanna
    “Suzanna or via sortita” – Conte, Contessa e Suzanna
    “Aprite, presto, aprite! – Suzanna e Cherubini.
    “Amanti constante” – Conte, Contessa, Figaro, Suzanna, Bartolo, Marcellina, Cherubino, Barbarina, Contadini, Popolani e Cacciatori,
     

    TERCEIRO ATO
    O terceiro ato é o do desenlace, com a vitória final de Figaro: Primeiro, com o divertido descobrimento – uma brincadeira sobre os recursos literários – de que Marcellina é, de fato, a mãe de Figaro e que deixa de ser, por conseguinte, um impedimento para o casamento com Susanna; e, segundo, com o casamento de Figaro e Susanna. O ato termina com o agradecimento de todos ao conde pela abolição do humilhante direito feudal.

    Cenas principais:
    “Crudel! Perché finora” – Conte e Suzanna.
    "Hai gia vinta la causa…Vedrò mentr'io sospiro" - Conde de Almaviva
    “Riconesce in quest’amplesso” – Figaro, Bartolo, Don Curzio, Conte, Marcellina e Suzanna,
    "E Susanna non vien!…Dove sono i bei momenti" - Condessa de Almaviva
    "Sull'aria? Che soave zeffiretto" - Susanna e Condessa
    “Ricevete, o padroncina”- Coro

    QUARTO ATO
    A vitória foi completa mas ainda falta, no quarto ato, o duplo encontro do conde urdido por Figaro. Durante a festa que segue ao casamento, a condessa e Susanna trocaram entre elas os seus vestidos e o conde e Figaro caem na armadilha: O conde tenta seduzir a suposta criada e Figaro faz, para vingar-se, a corte à suposta condessa. O ridículo de tentar seduzir as suas próprias mulheres é um corretivo severo para os dois homens e tinge a obra de tristeza e cepticismo ao mostrar a fragilidade da fidelidade amorosa.

    Cenas principais:
    "L'ho perduta, me meschina" - Barbarina
    "Il capro e la capretta" - Marcellina
    "In quegli anni" - Don Basilio
    "Tutto è disposto…Aprite un po' quegli occhi" - Figaro
    "Giunse alfin il momento…Deh vieni, non tardar" - Susanna
    “Pian, pianin le andrò” – Cherubino, Bartolo, Basilio, Marcellina, Antonio, Conte, Contessa, Suzana, Figaro e Barbarina.
    “Ah tutti contenti” – Todos.

    O espetáculo
    Os cenários de Nicolàs Boni, são lindos e funcionais. Relembra a época – leves e de fácil manipulação, agradou completamente, enfeitando as cenas com muita eficiência. Os desenhos de luz, de Wagner Pinto, apesar de bem elaborados, não sabemos se por falta de ensaios, por várias vezes, deixou trechos de cenas na penumbra e mal focalizados.O figurinos de Fábio Namatame, belos, fiéis a época e muito bem elaborados. A direção de cena de Livia Sabag, bem tradicional, elegante e desenvolta. Os cantores se sentiram a vontade para executar os seu trabalhos com desembaraço e agilidade.O maestro Tobias Wolkmann, esteve muito bem na condução da maravilhosa orquestra do Theatro Municipal. Seguro, não deixou que o som do conjunto, cobrisse as belas vozes envolvidas na ópera.


    Lauro Gomes com a diva Marina Considera,
    maravilhosa Condessa de Almaviva.

    O Elenco
    A homogeneidade continuou coesa, como aconteceu no elenco da estréia. Como Fígaro, tivemos o Felipe Oliveira, uma bela voz potente e competente cenicamente. Muito bom. Este rapaz largou o curso de medicina em Maceió, para dedicar-se ao canto e valeu a pena. Está com uma carreira já brilhante na Europa e agora vem mostrar-se no seu pais. Alagoas se orgulha do seu filho. Domínio no estilo. Suas árias foram interpretadas com equilíbrio e refinamento. Ótima confirmação de talento. A Suzanna, de Carla Cottini, magnífica em cena e na posse da sua bela voz, ela esbanjou talento e desenvoltura. Está fazendo todas as récitas do espetáculo, já que Chiara Santoro, com problemas no joelho, abandonou a cena após o primeiro ato, no seu primeiro espetáculo. Cottini, está completamente a vontade na condução da sua personagem. Provou a eficiência das suas participações em musicais, pois não é fácil fazer récitas seguidas, de uma personagem presente em praticamente em quase todas as cenas. Fôlego e graciosidade. Uma brava Suzanna.O Conde Almaviva, do Manuel Alvares, foi fantástico. Com a sua voz potente e de timbre de celebridade, estava completamente esquecido dos nossos palcos. Que feliz retorno. Ótimo ator, desenhou com primorosos detalhes e minuncias, o caráter o maquiavélico do Conde. Alvares é um estupendo barítono brilhante e dramático. Precisa de mais oportunidades. A Condessa de Almaviva, de uma Marina Considera, altiva, de voz linda e musicalidade impecável,Provou mais uma vez que é um soprano de futuro imenso. Que figura intensa e segura. Respiração,pianíssimos impecáveis, legados primorosos, uma diva no concepção exata da palavra.representou a sua atormentada personagem, com segurança e técnica perfeita. Foi a grande surpresada noite, recebendo generosos aplausos por sua magnífica atuação.

    Duas figuras são constantes em todas as récitas: No meio de um elenco quase totalmente de brasileiros, o Cherubino da mezzo argentina Malena Dayen, continuou apaixonado, galante e gracioso. Saiu-se combravura na construção do rapazola. O Sávio Sperandio, continua dando um banho como Doutor Bartolo. Grande voz, imenso talento. Soberbo em construções cômicas, cumpriu com empenho o seu papel com intensa facilidade. Beatriz Pampolha vivendo a Marcellina, deu um grande destaque à personagem. Engraçada e histriônica,mostrou que não foi à toa que estava no meio daquele palco. Já é uma grande realidade, falta mais oportunidades para a cantora desenvolver os seus amplos dotes. O Basilio de Cleyton Pulzi, mostrou habilidades inegáveis. Voz clara e limpa, de tenor lírico. Atento e seguro, foi exemplar nas suas cenas.Frederico de Oliveira, como Antonio, foi muito bom. Truculento, engraçado e já com muita presença cênica. cênica, soube aproveitar com inteligência, as suas breves participações.Luiza Lima, bela e formosa voz de soprano lírico que já desponta com firmeza. Sua Barbarina foi presente, dando muito frescor a sua atuação. O tenor Guilherme Moreira, vivendo Don Curzio. Foi mais uma grande promessa, mais um talento procurando espaço. Foi correto e contribuiu muito, com a pequena participação.

    O que fica destas Bodas de Fígaro, é a flagrante contestação, que ópera nacional existe e grandiosa. Nosso cantores explodem em quantidade e qualidade. O espetáculo é de nível internacional. Poderia ser levado em qualquer parte do mundo com sucesso garantido. Nossas melhores expectativas, ao belo começo da gestão de João Guilherme Ripper, na direção da nossa principal casa de espetáculos. Bravos com louvor a todos. Vale a pena sair de casa e aplaudir aos nosso valentes artístas. Imperdível.

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