17/10/2015
Crítica da ópera Le Nozze di Figaro (as
Bodas de Fígaro) no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro
Le nozze di Figaro (em português As
bodas de Fígaro) é uma ópera-bufa em quatro atos .
Música – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Libreto – Lorenzo Da Ponte (1749-1838) a partir de Le
Mariage de Figaro, Pierre Beaumarchais (1732-1799)
Produção original do Theatro São Pedro (São Paulo)
Desenho de Luz – Wagner Pinto
Figurino – Fábio Namatame
Cenografia – Nicolàs Boni
Direção de Cena – Livia Sabag
Regência – Tobias Volkmann
Solistas das récitas de 19, 21, 27, e 29 de novembro
Susana – Carla Cottini, soprano
Fígaro – Rodrigo Esteves, barítono
Conde de Almaviva – Douglas Hahn, barítono
Condessa de Almaviva – Maíra Lautert, soprano
Cherubino – Malena Dayen, mezzo-soprano
Don Bartolo – Savio Sperandio, baixo
Marcelina – Lara Cavalcanti, mezzo-soprano
Basilio – Giovanni Tristacci, tenor
Antonio – Ciro D’Araújo, barítono
Barbarina – Michele Menezes, soprano
Don Curzio – Bruno dos Anjos, tenor
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Solistas das récitas de 20, 22,
26 e 28 de novembro
Susana – Chiara Santoro, soprano
Fígaro – Felipe Oliveira, barítono
Conde de Almaviva – Manuel Alvarez,
barítono
Condessa de Almaviva – Marina
Considera, soprano
Cherubino – Malena Dayen,
mezzo-soprano
Don Bartolo – Savio Sperandio, baixo
Marcelina – Beatriz Pampolha,
mezzo-soprano
Basilio – Cleyton Pulzi, tenor
Antonio – Frederico de Oliveira,
barítono
Barbarina – Luiza Lima, soprano
Don Curzio – Guilherme Moreira,
tenor
A história
A ópera tem lugar em Sevilha,
alguns anos depois dos fatos
narrados em Il barbiere di Siviglia,
em que o conde de Almaviva tinha
conseguido casar-se com Rosina,
graças à astúcia do barbeiro Figaro.
Mas, se em Il barbiere o amor que
triunfava era o do conde, em Le
nozze di Figaro é o do criado. Não
por acaso, esta ópera inspira-se
numa comédia de Beaumarchais escrita
com uma mentalidade tão
antiaristocrática como a Revolução
Francesa (1789) que explodiu cinco
anos depois da estreia da obra
(1784). Efetivamente, em Le nozze di
Figaro (1786), quem está a ponto de
casar-se é Figaro, convertido agora
em criado de Almaviva e da sua
esposa Rosina, a condessa. A
felicidade, porém, dos futuros
esposos – Figaro e Susanna – está
ameaçada porque o conde julga ter o
Direito do Senhor, que dava ao
patrão o privilégio de passar a
noite de núpcias com sua empregada,
antes do futuro marido e, de fato, o
que explica o argumento é a maneira
como o criado consegue vencer e
ridiculizar as pretensões sexuais do
aristocrata.
PRIMEIRO ATO
No primeiro ato, expõe-se o problema
– Figaro percebe as intenções do
conde – e mostram-se as dificuldades
que o criado terá de vencer: A
prepotência do amo, as pretensões de
Marcellina, que conserva um
documento em que Figaro se
compromete a casar-se com ela se não
lhe devolver um empréstimo, a
hostilidade dos velhos criados da
casa, Bartolo e Basilio, e ainda,
complicando tudo, a presença do
pajem Cherubino, apaixonado pela
condessa.
Cenas principais:
“Cinque... Dieci... Venti...” –
Figaro e Suzanna
“Suzanna or via sortita” – Conte,
Contessa e Suzanna
"Se vuol ballare" - Figaro "La
vendetta" - Doctor Bartolo
“Via, resti servita” – Marcellina e
Suzanna
"Non so più cosa son, cosa faccio" -
Cherubino
“Cosi sento! Tosti andati” – Conte,
Basilio e Suzanna
“Giovani liete” - Coro
"Non più andrai" - Figaro
SEGUNDO ATO
No segundo ato, Figaro explica a sua
estratégia para solucionar o
problema, em que participam todos os
danificados pela arrogância do
conde, mesmo a sua esposa, Rosina,
que se sente pouco estimada pelo
marido. A estratégia consiste em
fazer chegar ao conde um escrito
anónimo que o informa de um iminente
encontro amoroso da condessa e outro
escrito assinado por Susanna em que
quer encontrar-se com ele. Desta
maneira, o conde mostrar-se-á como
um marido tão autoritário e ciumento
como infiel.
Cenas principais:
"Porgi, amor, qualche ristoro" -
Condessa de Almaviva
"Voi, che sapete" - Cherubino
"Venite, inginocchiatevi" - Susanna
“Suzanna or via sortita” – Conte,
Contessa e Suzanna
“Aprite, presto, aprite! – Suzanna e
Cherubini.
“Amanti constante” – Conte, Contessa,
Figaro, Suzanna, Bartolo, Marcellina,
Cherubino, Barbarina, Contadini,
Popolani e Cacciatori,
TERCEIRO ATO
O terceiro ato é o do desenlace, com
a vitória final de Figaro: Primeiro,
com o divertido descobrimento – uma
brincadeira sobre os recursos
literários – de que Marcellina é, de
fato, a mãe de Figaro e que deixa de
ser, por conseguinte, um impedimento
para o casamento com Susanna; e,
segundo, com o casamento de Figaro e
Susanna. O ato termina com o
agradecimento de todos ao conde pela
abolição do humilhante direito
feudal.
Cenas principais:
“Crudel! Perché finora” – Conte e
Suzanna.
"Hai gia vinta la causa…Vedrò mentr'io
sospiro" - Conde de Almaviva
“Riconesce in quest’amplesso” –
Figaro, Bartolo, Don Curzio, Conte,
Marcellina e Suzanna,
"E Susanna non vien!…Dove sono i bei
momenti" - Condessa de Almaviva
"Sull'aria? Che soave zeffiretto" -
Susanna e Condessa
“Ricevete, o padroncina”- Coro
QUARTO ATO
A vitória foi completa mas ainda
falta, no quarto ato, o duplo
encontro do conde urdido por Figaro.
Durante a festa que segue ao
casamento, a condessa e Susanna
trocaram entre elas os seus vestidos
e o conde e Figaro caem na
armadilha: O conde tenta seduzir a
suposta criada e Figaro faz, para
vingar-se, a corte à suposta
condessa. O ridículo de tentar
seduzir as suas próprias mulheres é
um corretivo severo para os dois
homens e tinge a obra de tristeza e
cepticismo ao mostrar a fragilidade
da fidelidade amorosa.
Cenas principais:
"L'ho perduta, me meschina" -
Barbarina
"Il capro e la capretta" -
Marcellina
"In quegli anni" - Don Basilio
"Tutto è disposto…Aprite un po'
quegli occhi" - Figaro
"Giunse alfin il momento…Deh vieni,
non tardar" - Susanna
“Pian, pianin le andrò” – Cherubino,
Bartolo, Basilio, Marcellina,
Antonio, Conte, Contessa, Suzana,
Figaro e Barbarina.
“Ah tutti contenti” – Todos.
O espetáculo
Os cenários de Nicolàs Boni, são
lindos e funcionais. Relembra a
época – leves e de fácil
manipulação, agradou completamente,
enfeitando as cenas com muita
eficiência. Os desenhos de luz, de
Wagner Pinto, apesar de bem
elaborados, não sabemos se por falta
de ensaios, por várias vezes, deixou
trechos de cenas na penumbra e mal
focalizados.O figurinos de Fábio
Namatame, belos, fiéis a época e
muito bem elaborados. A direção de
cena de Livia Sabag, bem
tradicional, elegante e desenvolta.
Os cantores se sentiram a vontade
para executar os seu trabalhos com
desembaraço e agilidade.O maestro
Tobias Wolkmann, esteve muito bem na
condução da maravilhosa orquestra do
Theatro Municipal. Seguro, não
deixou que o som do conjunto,
cobrisse as belas vozes envolvidas
na ópera. |
Lauro Gomes com o
barítono Rodrigo Esteves |
O Elenco
É muito raro sentir uma
homogeneidade tão grande como
aconteceu neste elenco da estréia.
Destaque para para o excepcional
Fígaro de Rodrigo Esteves, a sua
belíssima voz, de timbre quente e
poderosa, envolveu e emocionou a
todos. Suas árias foram
interpretadas com exatidão, senso de
estilo em completa segurança..A
Suzanna, de Carla Cottini, nem é
surpresa. Magnífica em cena e no
dominio da sua bela voz, ela
esbanjou talento e desenvoltura.
Estava totalmente a vontade na
condução da sua personagem.O Conde
Almaviva, de Douglas Hahn, foi
perfeito. Sarcástico, cínico,
insensível, um bom malandro de voz
possante e altiva. A Condessa de
Almaviva, da querida Maíra Lautert,
um soprano de voz admirável e de
imenso futuro, representou a sua
atormentada personagem, sem exageros
e com muito empenho.No meio de um
elenco quase totalmente de
brasileiros, o Cherubino da mezzo
argentina Malena Dayen,foi
apaixonado, galante e gracioso.
Saiu-se com bravura na construção do
rapazola. Sávio Sperandio, deu um
banho como Doutor Bartolo. Grande
voz, imenso talento. Soberbo em
construções cômicas, cumpriu com
empenho o seu papel com intensa
facilidade. Lara Cavalcanti fazendo
a Marcellina, confirmou todas as
previsões alvissareiras de um
brilhante futuro. Timbre raro e
aveludado. Grandes expectativas em
papéis mais avançados.O Basilio de
Giovanni Tristacce, seguiu a risca o
seu trabalho. Voz ampla de tenor
brilhante, que precisa urgentemente
de novas oportunidades para
desenvolver a sua vocação. Ciro
D’Araújo, como Antonio, foi a grande
surpresa da noite. Engraçadissimo,
voz poderosa e muita presença de
palco. Foi um verdadeiro achado.
Michele Menezes foi a
confirmação de um grande soprano
lírico que se desenvolve
rapidamente. Sua Barbarina foi no
ponto. Graciosa, intensa e
sobretudo, sempre atenta. Don Curzio,
do tenor Bruno dos Anjos, cumpriu a
sua parte com objetividade e
precisão. Mais um talento procurando
espaço.
O que fica destas Bodas de Fígaro, é
a flagrante contestação, que ópera
nacional existe e grandiosa. Nosso
cantores explodem em quantidade e
qualidade. O espetáculo é de nível
internacional. Poderia ser levado em
qualquer parte do mundo com sucesso
garantido. Nossas melhores
expectativas, ao belo começo da
gestão de João Guilherme Ripper, na
direção da nossa principal casa de
espetáculos. Bravos com louvor a
todos. Vale a pena sair de casa e
aplaudir aos nossos valentes artístas.
Imperdível.
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