24/07/2016
Crítica
do concerto de Angélica de la Riva
(soprano) e
Kátia Balloussier (piano)
Ontem a noite (23 de julho), tivemos
um belíssimo recital, dentro da
Série Sala Música de Câmara, na Sala
Cecília Meirelles. No palco, a
presença marcante e personalíssima
da cantora brasileira, residente nos
Estados Unidos, Angélica de la Riva,
que se apresentou fazendo um duo
coeso e muito musical, com a nossa
consagrada pianista Kátia
Balloussier.
Vestida de um longo preto com
detalhes prateados, a linda figura
de Angélica, começou o seu recital
cantando modinhas e canções do maior
compositor brasileiro do Século XIX,
Carlos Gomes.
Na ordem, ouvimos “Quem sabe?” –
modinha composta entre 1859 e 1860,
sobre versos de Bittencourt Sampaio.
Afinada e bem articulada, Angélica
caprichou nos detalhes, conquistando
de imediato a platéia. Sentimos a
satisfação da cantora com a resposta
do público, generoso e justo.
Em seguida, tivemos “Mon Bonheur”,
canção em idioma francês, com a
letra de Julia Cesarina datada de 24
de abril de 1882. “Este nome que
canto, é toda a minha felicidade.
Que infinito prazer dizê-lo sempre.
É prece, vitória, glória, é amor”.
Inspirada e deliciosa a música de
Carlos Gomes pairou como canto
luminoso e apoteótico.
Depois com letra do próprio
compositor, tivemos “Povera Bambola”,
escrita entre 1885 e 1890 - Uma
menina chama a atenção da sua mãe,
para o estado de sua boneca que caiu
e se quebrou pedindo-lhe que lhe
compre uma outra. Angélica nos deu
uma versão cândida, fresca, com
leveza e graça.
Depois outra modinha encantadora,
escrita pelo Dr. Velho Experiente (o
próprio Carlos Gomes), em 1884, em
Milão – “Conselhos” – uma peça
satírica, conselhos que se dá a uma
moça que pretenda se casar,
terminando: - A mulher só faz o
homem bom e mau, que assim como dá
pão, pode dar pau! Graça e malícia se juntam às ponderações da Angélica, que se revela também, uma ótima atriz.
Encerrando a parte dedicada ao nosso
compositor campineiro - “Suspiro
d’alma”, com versos do poeta
português Almeida Garret, composta
entre os anos de 1858 e 1859. Um
grande sucesso desde os saráus
familiares durante o Segundo
Império, fechando com sensibilidade
e delicadeza a homenagem aos 180
anos de Carlos Gomes. |
Eu e a linda Angelica de la Riva, depois do seu
magnífico recital na Sala Cecília Meirelles. |
Depois dos agradecimentos merecidos,
Angélica de la Riva, voltou ao palco
com uma rosa vermelha presa aos
cabelos negros, compondo já uma
salerosa espanhola, para interpretar
peças de Enrique Granados. Primeiro,
peças das “12 Tonadillas en Estilo
Antiquo”, de 1914 - compostas sobre
versos de de Fernando Periquet,
inspirados nas pinturas de Goya -
retratam homens e mulheres de uma
Madri daquela época.
Tivemos La Maja de Goya – La Maja
Dolorosa I – La Maja dolorosa II e
La Maja dolorosa III. Todas com
harmonias bem sutís, com melodias
arcaícas de sabor autenticamente
espanhol. Angélica coloriu com cores
vivas, o seu canto melancólico e
profundo, com graves aveludados e
leves agudos bem colocados.
Ainda de Granados, tivemos da ópera
“Goyescas”, de 1916, uma ária do 3º
ato, “La Maja y el Ruseñor” – onde
Rosário, sentada no banco do jardim
do castelo, ouve o canto de um
rouxinol, sob a luz do luar.
Muitos aplausos encerraram a
primeira parte do programa.
Na segunda parte, Angélica vestiu um
longo amarelo canário, para cantar
consagradas canções napolitanas,
Pela ordem “Core’ngrato”, de
Salvatore Cardillo, sobre poema de
Alessandro Cordiferro, de 1911 –
“Torna Surriento”, de Ernesto de
Curtis, de 1902 e “Non ti scordar di
me”, também de de Curtis, de 1935,
com poesia de Domenico Furno. Em
seguida, mais uma canção napolitana
mas cantada em italiano, “Rodine al
Nido”, de Vicenzo Crescenzo, de
1926. Depois desta série napolitana
cantada com amor, vigor e graça,
Angélica nos brindou com a ária “O
Mio Babbino Caro”, da ópera “Gianni
Schicchi”, de Puccini, que estreou
no Metropolitan de Nova Iorque,
junto com as óperas “Il Tabarro” e
“Sour Angelica”, formando o famoso
tríptico, em 1918. Na ária, Lauretta,
apaixonada por Rinuccio, tenta
comover o coração do seu pai -
Perfeita a interpretação de la Riva.
Envolvente e ardilosa, segura nas
respirações e com muita facilidade
vocal, deu seu recado lindamente.
Em seguida voltamos às canções
napolitanas. De Lucio Dalla
“Caruso”, editada em 1986 e escrita
numa homenagem ao célebre tenor
Enrico Caruso. Depois, de Nino Rota,
“Bruscia la Terra”, composta em
1972, como trilha sonora do filme “O
Poderoso Chefão”. E para encerrar,
não poderia ficar de fora “O Sole
Mio”, de Eduardo di Capua, de 1898,
onde o compositor canta uma ode ao
sol de sua pátria.
Angélica de la Riva estava
inspiradíssima e exuberante. Linda e
cantando com segurança um repertório
que uniu o modinhas e canções
brasileiras, música de câmara, ópera
e canções napolitanas, atingiu
certeiramente o coração do público,
que saiu alegre e satisfeito de
volta para casa. Como companhia, o
piano de Kátia Balloussier, cantou
divinamente e com desenvoltura,
amparando com elegância e distinção,
as interpretações de Angélica.
Bravos. Muitos bravos!.
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