Um dos maiores expoentes do Classisismo nas Américas, o Padre José Maurício Nunes Garcia
foi também um dos primeiros grandes
compositores eruditos brasileiros. Além de
ter criado obras primas da música sacra e
profana do período entre o fim do século
XVIII e inicio do XIX, José Mauricio também
tem um mérito extra: ele conseguiu trabalhar
como mestre de capela da Sé da cidade
(posto mais importante para um músico no
Brasil Colônia), recebendo grande
consideração da Família Real, mesmo tendo que lutar contra os preconceitos da sociedade brasileira de
seu tempo, por ser mulato e por ter tido filhos,
mesmo sendo padre.
Neto de escravos, e de origem muito humilde,
José Mauricio nasceu em 1767, e ficou órfão
de pai aos seis anos, passando a ser criado pela mãe com a ajuda de uma tia. As duas mulheres, lavadeiras, percebem o interesse do menino para a música e trabalham em dobro para custear as aulas particulares
de música para o garoto. Seu progresso foi tão rápido que aos doze anos já ensinava outros alunos.
Efetivamente, acabou abrindo uma escolinha
de música algum tempo depois. A escassez de
recursos era tão grande que as aulas de
teoria e prática musical que ministrava
tinham de ser realizadas apenas com sua
viola de arame, não podendo contar sequer
com um cravo ou pianoforte.
Em 7 de setembro de 1871 ingressou na Irmandade de São Pedro dos Clérigos, compondo para ela três Te Deums. Em 1792, foi ordenado padre e, em 1798 tornou-se mestre de capela da Catedral do Rio de Janeiro.
Em 1808, a chegada da Família Real
Portuguesa influiu diretamente na vida do
compositor. Quando o príncipe regente, Dom
João, teve oportunidade de ouvir audições de
obras de José Maurício, o príncipe o nomeou mestre de capela da Capela Real.
Dom João trouxera também uma grande biblioteca de partituras e tratados musicais, da qual o padre, também nomeado seu arquivista, conheceu obras importantes de notáveis mestres em atividade na Europa, como Mozart e Haydn, aperfeiçoando sua técnica de instrumentação e sua escrita vocal.
O período entre 1808 e 1811 é o mais produtivo de Nunes Garcia, durante o qual ele compõe cerca de setenta obras para várias funções sacras e solenidades. Em 1809, dom João condecora-o com o Hábito da Ordem de Cristo, sinal da grande estima que tinha pelo músico.
Porém, José Maurício não escapou porém do preconceito de alguns membros da corte, que se referiam à sua cor
de pele como um "defeito visível". Além da
mentalidade racista da época, outro
obstáculo que José Maurício enfrentou foi a
chegada de um compositor "rival": em 1811 chegou à corte Marcos Portugal, o compositor português mais célebre do seu tempo, que tinha suas obras apresentadas por toda a Europa de então. A fama do recém-chegado levou dom João a pôr Marcos Portugal à frente da Capela Real, substituindo Nunes Garcia. O brasileiro continuou, porém, a ser custeado pelo governo e a compor esporadicamente novas obras para a Capela, mas iniciava-se o seu declínio.
Em 1816 dirigiu na Igreja do Carmo um Requiem de sua autoria, em homenagem à rainha portuguesa D. Maria I, morta naquele ano no Rio. Em 1816 chega à corte o compositor austríaco Sigismund Neukomm, que estabeleceu uma grande amizade com o brasileiro. Mais tarde Nunes Garcia dirigiu as estreias brasileiras do Requiem de Mozart (1819) e de A Criação de Haydn (1821).
O empobrecimento da vida cultural após o retorno de D. João VI a Portugal e a crise financeira depois da Independência do Brasil (1822) causaram uma diminuição da atividade de Nunes Garcia, agravada pelas más condições de saúde do compositor. Em 1826 compôs sua última obra, a Missa de Santa Cecília, para a irmandade de mesmo nome. Morreu em 18 de abril de 1830, em difícil situação financeira. Apesar de ser padre, teve seis filhos, dos quais reconheceu um.
O fato de ser pai era um fato embaraçoso
para um padre que subira a uma alta posição,
e isso possivelmente contribui para o
gradual ostracismo a que foi submetido a
partir da chegada de Marcos Portugal ao Rio
.
Seu sucessor Dom Pedro I, apesar de amante da música e simpático ao padre, não pôde manter a pensão do compositor, e ele teve de fechar sua escola. Um de seus filhos, escrevendo sobre o pai nesta fase de obscurecimento, fala de sua frustração, de um envelhecimento precoce e de doenças crônicas que perturbaram sua produção e paz de espírito.
Faleceu em 1830.
Sua produção conhecida chega a cerca de 240 obras, muitas delas redescobertas ou restauradas em meados do século XX por Cleofe Person de Mattos, musicóloga que teve papel fundamental na revalorização da música do período colonial brasileiro. Hoje em dia suas composições voltaram às salas de concertos e recitais em igrejas, já tendo diversas delas gravadas e publicadas.
Entre as mais conhecidas, podemos citar a
Missa de Réquiem (que já foi gravada
inclusive no exterior), a Missa dos
Defuntos, a Missa de 8 de Dezembro, a
Abertura em Ré e a Abertura Zemira.
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